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"O Galinho Chicken Little" (Chicken Little - 2005) - Disney

por Celbi Pegoraro

Cumprindo a promessa de republicar antigos textos do Animagic, aqui vai o dedicado ao filme "O Galinho Chicken Little", primeira produção totalmente computadorizada da Disney, com faturamente total de mais de US$ 135 milhões só nos EUA. O texto a seguir, com algumas modificações, foi originalmente publicado em 05 de novembro de 2005. O texto é longo, então pegue seu lanche e boa leitura:

A estréia do longa "O Galinho Chicken Little" veio com uma série de perguntas que pedem respostas. Aprovado em 2001 por Thomas Schumacher em uma época em que a Disney saía de uma produção turbulenta (A Nova Onda do Imperador) e sofria um fracasso nas bilheterias com Atlantis: O Reino Perdido. Poucos anos mais tarde, o estúdio sofreria uma de suas maiores transformações em décadas.

Sendo assim, este novo filme, primeiro de uma nova safra de produções totalmente computadorizadas, tenta responder questões como: "o filme honra a tradição do estúdio e a qualidade dos tradicionais (feitos a mão)?", "foi acertada a decisão de não produzir mais filmes tradicionais?", e outras como "é melhor que os filmes da Pixar? Ou os da Dreamworks?" Enfim, o que nos interessa inicialmente é saber se o filme é bom.

O Galinho Chicken Little tem direção de Mark Dindal e produção de Randy Fullmer. Ambos são responsáveis pelo divertido A Nova Onda do Imperador, e Dindal ainda tem no currículo o menosprezado, porém ótimo, Gatos Não Sabem Dançar da Turner/Warner.

Chicken é baseado numa antiga história, por sinal já produzida em curta-metragem pela Disney em 1943, contado que o galinho Chicken Little deixa todos desesperados com a notícia que o céu está caindo. Com 77 minutos, o novo longa expande essa história misturando desde a relação melosa pai e filho, passando por referências pop (alá Shrek) além de elementos de ficção.

O começo do filme mostra o caos que a cidade de Oakey Oaks se transforma quando Chicken (no original voz de Zach Braff do seriado Scrubs), após uma noz cair em sua cabeça, alerta que o céu está caindo. O incidente deixa o pai dele, Pedro Galo, envergonhado. Como todas as crianças, Chicken quer apenas se enturmar, mas isso não é fácil já que ele é baixinho e um péssimo atleta. Fica assim, renegado a andar junto aos "excluídos" como Hebe Marreca (Abby Mallard (leia-se a patinha feia), o porco Raspa de Tacho (Runt of the Litter), e o hilário e curioso Peixe Fora D´água (Fish Out of Water).

Para impressionar seu pai, Chicken Little resolve participar do time de baseball, e com muita sorte ajuda seu time. Quando tudo parecia perfeito, ele é atingido em seu quarto por uma peça hexagonal vinda do espaço. Logo descobre que a a peça faz parte de uma nave alienígena e precisa, com a ajuda de seus amigos, impedir a invasão, mesmo com o trauma de já ter causado um enorme incidente no passado.

Falando da animação em si, O Galinho Chicken Little mostra uma animação tecnicamente acima do esperado vindo da Disney. Ainda mais sabendo que este é o primeiro filme após o programa que treinou veteranos animadores tradicionais nas ferramentas do computador. Um dos designers do filme é o Joe Moshier (A Nova Onda do Imperador, Nem Que a Vaca Tussa), e entre os animadores podemos citar Dale Baer (Yzma), Ellen Woodbury (Pégasus, Zazu) e Nik Ranieri (Lumiere, Hades).

A animação estica-e-puxa foi conseguida graças a um programa que possibilitou os animadores usarem desenhos à mão como referência para animar por computador. Com isso, os movimentos dos personagens parecem melhores do que em filmes como Madagascar. Embora os personagens sejam "fofinhos" e a animação de primeira, os cenários ficaram um tanto simples. Mas no geral, o filme surpreende.

Curiosidade: Muitos questionam se Dinossauro (2000) não seria o primeiro filme totalmente computadorizado da Disney. Na verdade não foi! Produzido pelo, agora extinto, estúdio Secret Lab, Dinossauro misturou animação computadorizada com cenários reais (filmados). Desse modo, O Galinho Chicken Little, é o primeiro longa 100% animado em computadores.

A trilha instrumental ficou a cargo de John Debney (A Nova Onda do Imperador). É uma trilha curta porém competente. O que tira um pouco do brilho é o excesso de canções pop no filme. Não que isso estrague o filme. Algumas entradas dessas canções são hilárias, mas esse conceito de encher o filme de referências musicais como fez Shrek 2 é o tipo de coisa que a Disney precisa evitar.

Isso faz com que o filme deixe de ser atemporal. Com certeza quando o filme for assistido daqui 20 anos, estará um tanto datado, ao contrário dos antigos clássicos animados. As canções lembradas vão desde Diana Ross, passando por Elton John e Spice Girls. Em geral, as músicas foram mantidas no original mesmo na dublagem, mas ficou estranho dublarem o galinho cantando "Eu sou o Champion!"

No quesito dublagem, o filme tem diversos aspectos positivos. A versão brasileira ganhou excelente adaptação e ótimas vozes. Lógico que dois atores da Globo foram incluídos. Daniel Oliveira e Mariana Ximenez dublam respectivamente Chicken Little e Hebe Marreca.

Na versão original, além do Chicken (voz de Zach Braff) temos o diretor de O Diário da Princesa, Garry Marshall fazendo o pai Buck Cluck (Pedro Galo), Joan Cusack faz Aby Mallard (Hebe), Steve Zahn de O Pequeno Stuart Little faz a voz de Runt of the Litter (Raspa de Tacho), e o editor do filme, Dan Molina, deu a voz para o simpático Peixe Fora D´Água.

Don Knotts, conhecido em animação pela voz do Sr. Cabeça de Batata em Toy Story, faz a voz do prefeito Peru Gluglu. O senhor Ovelhês tem voz de Patrick Stewart de Jornada nas Estrelas (Guilherme Briggs na versão brasileira). Vale lembrar que o filme não se sustenta nas vozes de famosos como ocorre em muitos filmes da Dreamworks.

O Galinho Chicken Little peca um pouco em seu roteiro. Já era sabido que alongar uma premissa tão curta daria trabalho, mas creio que as passagens lentas da relação pai e filho sejam um pouco tediosas para crianças pequenas. Em compensação, os mais jovens vão gostar das dezenas de referências que só estão no filme para fazer rir.

Agindo agora como advogado do diabo, diria que Michael Eisner teve uma decisão acertada quando mandou trocar o sexo do protagonista. Quando a produção foi iniciada, entre 2001 e 2002, Chicken seria uma garotinha. A mudança não só ampliou o público alvo, como ajudou nessa idéia da relação do personagem com o pai. Aliás, seguindo a cartilha Disney, este é mais um filme onde o protagonista não tem um dos pais. Neste caso, a mãe do Chicken Little está ausente.

Divertido, bem produzido e com piadas para todo tipo de público, O Galinho Chicken Little pode não ser (e não é!) um filme perfeito, mas com certeza mostra que o estúdio do Mickey não está morto como alguns gostam de pensar. Parabéns ao Mark Dindal, que conseguiu a proeza de fazer 3 bons filmes consecutivos em "ambientes" turbulentos.

Gatos Não Sabem Dançar quase "dançou" na Warner e A Nova Onda do Imperador foi dos filmes mais problemáticos durante a produção. O céu pode não ter caído, mas a sensação no estúdio era essa durante o período de trevas em que Chicken Little foi produzido.

E uma última curiosidade de bastidores: Antes de Zach Braff, o galinho Chicken teria a voz do ator Sean Hayes da série "Will & Grace".

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