Sinergia Disney (por Fernando Ventura)
Introdução do editor: Os leitores devem ter acompanhado pelo Animagic as mudanças anunciadas pela Editora Abril. A linha de gibis Disney passa a ser mensal, tendo seis títulos: Mickey, Pato Donald, Zé Carioca e Minnie (todos com 50 páginas, custando R$2,95), além do Tio Patinhas e da substituição do Almanaque Disney pelo Aventuras Disney (ambos com 80 páginas custando R$4,95). Fora isso o lançamento setorizado dos gibis, ou seja, os leitores fora da região sudeste teriam acesso aos gibis três meses após o lançamento. Todas essas mudanças alimentam discussões sobre uma “crise” na venda dos gibis Disney, e as formas escolhidas pela Editora Abril para driblar as dificuldades com seus lançamentos. O assunto é complexo e pode ser analisado de várias formas: desde o alto preço não proporcional ao custo de vida, as transformações do mercado (o que vende mais nas bancas?) até o próprio hábito de ir à banca está cada vez mais raro entre crianças se compararmos aos anos 80 ou começo dos 90. No artigo abaixo, Fernando Ventura traça suas teorias do ponto de vista estético. Será que o problema não seria também o fato dos quadrinhos não estarem atraindo novos leitores por falta de sinergia vinda da Disney?
Por Fernando Ventura (23/07/05)
O recente anúncio da setorização de toda a linha de quadrinhos Disney assustou os leitores. Todos os fãs receberam a notícia com receio de que esse é início do fim. Não é para tanto, porém a queda da popularidade dos quadrinhos Disney no Brasil pode ser exemplificada a partir de 3 pontos de vista: o estético, o conteúdo editorial e a falta de uma maior sinergia entre Editora Abril e a Disney do Brasil.
A Disney se diversificou tanto que esqueceu de promover seus personagens principais não apenas como figuras, mas também como possuidores de personalidade própria (o pato tem mau gênio! Cadê ele de cara feia nos cadernos e agendas?). Também o design atual dos personagens presentes nos style guides são um tanto quanto inexpressivos. Muito certinhos, proporcionais e simplificados, porém de pouco impacto. Especialmente se comparados com as artes dos quadrinhos das décadas passadas (as capas de Moacir Rodrigues dos anos 80 são um bom exemplo). Mas o grande problema é que algumas poses dos guides são usados de forma tão intensa em tantos produtos diferentes que já saturaram.
Como a produção nacional de HQs Disney se extinguiu, não resta outra alternativa senão a de usar as histórias novas estrangeiras ou o material de republicação. O conteúdo (roteiros e desenhos novos) não são mais tão bem trabalhados, inovadores ou divertidos quanto os das décadas passadas e aparentemente as republicações do material antigo (fora dos especiais) não conquistam novos leitores. Aja seleção para ir além do número de páginas ou do desenho bonitinho e buscar o que de mais criativo a Egmont, a Holanda e a Disney Itália tem a oferecer. O Almanaque Disney morreu não somente porque não vendia bem, mas também porque não publicava mais as tirinhas, o Zôo Disney, as Maravilhas da Natureza, as histórias longas italianas de alta qualidade que nos prendiam do começo ao fim...!
Nas décadas anteriores os personagens estavam sempre em exposição, mesmo que novos desenhos animados só começassem a pipocar a partir dos anos 80 (O Natal de Mickey Mouse, Soccermania, Ducktales, House of Mouse, etc). Além da pouca promoção dos "fabulous five" (Mickey, Pateta, Donald, Minnie e Pluto), o que mais prejudica os quadrinhos Disney é a ausência de personagens como o Tio Patinhas, Zé Carioca, Margarida e Peninha em outras mídias (você não acha UM livro infantil com esses personagens, por exemplo). Anos atrás quase todos eram parte integrante do chocolate "Nossa Turma". Hoje em dia ninguém mais conhece Disney! Se alguém chegar num colégio e perguntar quem é o Zé Carioca vai ter só uns dois moleques que vão dizer que é a mascote do Palmeiras! Isso se não não protestarem também sobre A DISNEY ter "roubado" o Mancha Verde!
Resumindo: falta sinergia entre as duas empresas!
Na exposição Mickey! do Banco Real ano passado, a Abril poderia ter marcado presença não apenas com o material emprestado dos arquivos, mas também com um gibi de encalhe pra cada visitante. Aliás, o saudosismo dos pais e dos visitantes na "vitrine Abril" dessa exposição era impressionante. "NOSSA, eu colecionei esse álbum!", “Olha o Biquinho!”. Um bom exemplo de sinergia foi a linha desenvolvida no Brasil "Os Vilões da Disney", com traço brasileiro e personagens saídos dos quadrinhos: Maga Patalógika, Irmãos Metralha, Madame Min, Mancha Negra...! Já edições especiais como Mestres Disney e O Melhor da Disney - As Obras Completas de Carl Barks mostram o interesse da editora em publicar projetos de qualidade com os personagens Disney. A próxima edição do Zé Carioca de Agosto traz uma aventura inédita de Don Rosa. Ainda mais especial é o lançamento do primeiro Mestres Disney dedicado a um artista brasileiro: Renato Canini. E com história inédita! Talvez valha a pena a espera, de 3 meses de quem está fora do "eixo" (sudeste), para colocar as mãos nesses gibis! :-)