O poder do marketing: o caso "Rapunzel"
por Celbi Pegoraro
Um dos projetos mais longos em produção da Disney, "Rapunzel" já teve passou por várias modificações artísticas e de marketing. Do lado artístico, o mestre da animação Glen Keane, diretor original do longa, imaginava (e experimentou) criar um novo tipo de experiência em animação - com imagens lembrando pinturas. Não deu certo provavelmente por custos e prazos.
A Pixar foi comprada pela Disney, John Lasseter assumiu a chefia de tudo e teria dado a opção de refazer "Rapunzel" em animação tradicional (uma das opções seria que os cabelos da heroína fossem feitos em animação computadorizada). A equipe decidiu prosseguir com o projeto em CGI e passou por diversas ideias. De adaptações mais cômicas até chegar em um versão mais séria e sombria. Entra co-diretor, sai co-diretor.
Um pequeno ataque cardíaco tirou Glen Keane do projeto, e um novo time assumiu a direção. Após 8 anos de produção, é difícil saber o que esperar desta animação. Há um certo hype e ao mesmo tempo um sentimento comedido pelo filme. O marketing da Disney também não definia oficialmente título nem os trailers. Chegou-se a conclusão de que o título poderia afugentar o público masculino e ocultar que é um musical virou um pretexto para fugir dos críticos da fórmula.
O novo trailer divulgado esta semana ampliou as discussões. Tecnicamente "Rapunzel", ou melhor "ENROLADOS" (esse é o título brasileiro) possui uma animação impecável. Está bonito. Por outro lado, a animação não mostrou nada de revolucionário parecendo que todo o trabalho do Glen Keane fora descartado. O marketing, querendo atirar para os jovens, investiu em um trailer engraçadinho repleto de gags a lá DreamWorks, com direito até a sombrancelhas arcadas.
Entretanto, para quem teve oportunidade de conferir exibições-testes, a sensação é de que o trailer não vende o filme honestamente. De acordo com três pessoas que assistiram, "Enrolados" teria no momento apenas 11% da animação finalizada e em cores - e muitas das cenas do trailer não aparecem no filme exibido para teste.
O filme parece seguir a fórmula das animações dos anos 1990 com estilo Broadway, mais próximo de "A Pequena Sereia", "A Bela e a Fera" e "Aladdin" (que tinham o dedo de Howard Ashman nas canções e na produção), ainda que apostando em mais ação, romance e aventura - além de situações muito engraçadas. O conto clássico de Rapunzel seria apenas o ponto de partida para a história contada no filme.
O trailer investe em músicas pop, mas o filme na verdade tem canções de Alan Menken (o mesmo dos clássicos noventistas). Nas exibições-teste, "Enrolados" conta com 5 ou 6 canções (além de reprises), e boa parte se concentra na primeira metade do filme - seguindo os padrões disneyanos. Entre elas estão duas baladas, uma canção da vilã Madame Gothel e um número cômico envolvendo os tipos mais perigosos em uma taverna cantando sobre seus sonhos secretos de vida.
Enfim, a história de Rapunzel não é mais uma nova experiência de arte de Glen Keane e não parece ser um "derivado" de "Shrek". Mas se o que os felizardos que assistiram as exibições-teste tiveram tão boa reação, espera-se que o resultado filme seja no mínimo muito bom.