Uma reflexão sobre festivais de animação
por Celbi Pegoraro
Ah, os festivais! Do Anima Mundi, passando pelo britânico FLIP, ao prestigiado Festival de Annecy, o mundo da animação não perde tempo ao analisar, comentar e reportar as mil novidades desse tipo de evento. Mas nem tudo são flores. E nem todos os amantes de animação são unânimes em fazer as malas e conferir um festival desses in loco.
Um amigo de um conhecido historiador de animação dos EUA disse a ele "Os filmes do festival não valem a viagem.... mas a cidade vale". Não, ele não está se referindo ao Anima Mundi e ao Rio de Janeiro. E sim ao festival de animação de Annecy na França, que para todos os efeitos é um dos mais sérios e respeitados do mundo.
É perceptível cada vez mais que nosso cultuado festival brasileiro (Anima Mundi) está crescendo, se tornando popular, mas ao mesmo tempo se tornando um pouco caótico. Em 2009 não estive presente ao evento e descobri, para minha surpresa, que vários amigos também não foram. Isso não significa propriamente que foi uma edição ruim, mas que a qualidade do festival está variando muito a cada ano.
Uma grande decepção tem sido que o Anima Mundi em São Paulo ainda não consegue se igualar ao Rio em convidados especiais. A maior estrela de 2010, o criador do Bob Esponja, só falou no Rio. Lá se vai um dos grandes atrativos para o evento em São Paulo.
Se os workshops são sensacionais para quem se interessa na área e as crianças podem se divertir pondo a mão na massa em todo tipo de técnica, é sensível a falta de uma seleção mais temática de filmes longas e curtas-metragens mais antigos para uma retrospectiva. Por que não fazer uma seleção de curtas do Pernalonga celebrando os seus 70 anos? Poderiam convidar um historiador ou então montar um painel com pesquisadores e profissionais brasileiros.
Seria incrível repetir o que fizeram no ano em que John Canemaker esteve no Rio e em São Paulo, e exibir da mesma forma como foram "Alice no País das Maravilhas" e "Você já foi a Bahia" com palestras, as produções raras e antigas da MGM - para muitos a Tiffany do mundo do cinema.
Mas voltando aos "filmes do festival não valem a viagem", analisando a lista deste ano do Anima Mundi é possível observar que a média de duração dos curtas-metragens subiu de 5-7 para 10-11 minutos - alguns chegando quase próximo da meia hora. A facilidade tecnológica e de produção também contribuiram para que mais gente possa produzir animações.
O resultado é que, infelizmente, há muito lixo no meio dos curtas que valem muito a pena ver. Se há três anos era possível elogiar sem restrições 5 num grupo de 10 curtas, hoje é possível encontrar sessões com apenas uma produção acima da média. Há muitos curtas bem intencionados, mas nem todos podem ser Bill Plympton, para ficar num exemplo.
Se para o entusiasta isso já é chato, imagine o tédio fatal para as crianças que se aventurarem nesse tipo de sessão competitiva. Diferente de outros anos, agora elas terão mais chances de divertimento se ficarem limitadas as sessões infantis (por mais que o rótulo me desagrade). Os colegas do blog Animação S.A. parecem corroborar da sensação porque também destacam "partes" de sessões:
Sobre os Curtas do dia, mais uma vez curtas gigantes e cansativos, se alguém estiver correndo de uma sessão para outra e estiver com medo de perder o primeiro curta de alguma sessões vou passar uma lista de alguns que vale a pena perder o primeiro propositalmente.
Curtas 3 - os primeiros 24 minutos
Curtas 4 - os primeiros 23 minutos
Curtas 7 - primeiros 10 minutos
Curtas 8 - primeiros 16 minutos
Mas o festival brasileiro pode e deve melhorar. Se no passado problemas horríveis de localização e de venda de ingressos foram resolvidos, acredito que nos próximos anos se atentem para uma melhor seleção de títulos e distribuição de convidados para que São Paulo também possa conferir o que há de melhor. Se nem Annecy é perfeito, aqui pelo menos só podemos evoluir.