O Fim da Era Eisner (por Celbi Pegoraro) - Parte II
Na Parte I, discutimos o inicio da era Eisner em 1984 e o começo da crise criativa e de gerenciamento.
Joe Roth era um excelente executivo, trazendo bons nomes de Hollywood para trabalhar na Disney, já que muitos artistas estavam brigados com Katzenberg, caso de Robin Williams. Joe também era popular entre os animadores pelo motivo de autorizar projetos audaciosos e os que foram negados por Katzenberg. Essa autorização tinha uma razão - segurar os artistas da tentação de migrarem para a DreamWorks. que assediava todos com salários maiores. Entre os projetos autorizados de Roth estão "Sweating Bullets" (que depois seria "A Nova Onda do Imperador"), "Atlantis" e "Planeta do Tesouro", projeto que Katzenberg detestava e julgava segmentado demais.
Por outro lado, os executivos que supervisionavam as operações do estúdio, Thomas Schumacher e Peter Schneider, eram conhecidos pela política de economia. Algo como, "quando menos gastar melhor!". Devido ao suposto fracasso nas exibições-teste do épico "Kingdom of the Sun", o estúdio foi forçado a produzir um filme mais econômico e as pressas. "A Nova Onda Imperador", muitas vezes chamado de "tapa buraco", recebeu as melhores críticas do público e da imprensa na história recente da Disney. Custou cerca de US$ 80 milhões, sem contarmos os US$30 milhões que supostamente foram gastos na versão épica, cujas cenas estão guardadas nos arquivos.
A situação do estúdio após a saída de Joe Roth (que fundou sua produtora, a Revolution)se complicou: O estúdio ficou sem um líder perfeito, já que para o lugar de Roth foi promovido Peter Schneider, e Thomas Schumacher acabou sendo o presidente dos estúdios de animação. A política de Schneider era simples e clara: Produzir filmes mais baratos fortalecendo a marca familiar de Disney. O maior sucesso de Schneider com certeza foi o filme Duelo de Titãs (Remember the Titans) com Denzel Washington. Produzido com um orçamento "enxuto", o filme foi um sucesso nas bilheterias. Na animação a ordem era: cortar gastos... o que afetou profundamente filmes como Atlantis e Planeta do Tesouro, que tiveram roteiros modificados cortando cenas inteiras (leia-se: aquelas cenas de ação mais caras que necessitam mais CGI, por exemplo.).
O ciclo de sucessos do estúdio já acabou e há muito tempo: segundo analistas de Hollywood, o ciclo de sucessos mais contundentes da Disney começa em "A Pequena Sereia" (1989) e termina em "Hercules" (1997).
O que é importante ressaltar é: em termos artísticos, a Disney está exatamente como em 1985 quando lançou "O Caldeirão Mágico". Está buscando um rumo para seus animados, falta um executivo com senso de direção. O estúdio acabou cansando o público com musicais de 1988 à 1997. Agora, eles estão tentando um pouco de tudo: Contratam astros para criar canções (Phil Collins, Sting), tentam retomar o gênero musical (Nem que a vaca Tussa com Alan Menkens), tentam filmes tendo público alvo mais maduro (Atlantis, Planeta do Tesouro), além de filmes com temas fabulosos (Irmão Urso, Lilo & Stitch), retornando aos contos-de-fadas (Rapunzel).
JUNHO DE 2001
O ápice da crise administrativa atual nos estúdios ocorre justamente em junho de 2001 quando dois dos filmes mais ambiciosos do estúdio fizeram bilheteria muito abaixo do esperado. Pearl Harbor e Atlantis: The Lost Empire foram vítimas de críticas pesadas da imprensa especializada, e marcaram a fragilidade de Peter Schneider - é bom lembrar que ele era uma das pessoas que não acreditava no potencial de "Toy Story", chegando a pedir para que produção fosse cancelada.
Peter Schneider renunciou oficialmente do estúdio para montar uma companhia teatral na Broadway- empresa esta de propriedade dividida com a Disney. Mas internamente todos especulam que a saída é muito ligada aos últimos lançamentos do estúdio.
Podemos ficar sossegados com sua saída? A resposta ainda seria um NÃO! Primeiro porque outros filmes autorizados por ele ainda seriam lançados. Segundo porque muitos animadores acham que o estúdio só vai mudar quando toda a diretoria executiva dos estúdios for trocada. A ascenção de Thomas Schumacher como presidente da Feature Animation, também teve vida curta, partindo depois para Walt Disney Theatrical Productions na Broadway.
O QUE OS ARTISTAS PENSAVAM DA CRISE?
O animador Dave Pruiksma, criador de personagens como o Sultão, Flit e Mrs. Pachard, afirma que "o grande problema do estúdio é a falta de desafios, de liberdade artística. Uma parte da mágica de Walt Disney está sendo perdida devido os atos falhos de executivos que só pensam nos acionistas e nos bônus de fim de ano. Na hora que eles deixarem os artistas produzirem o melhor possível, aí terão um grande filme, ou seja, enqüanto houver uma pressão em cima dos artistas, dificilmente teremos um hit nos cinemas. É preciso retomar a postura adotada na época de A Bela e a Fera, Aladdin, quando os executivos confiavam nos animadores. É preciso um executivo que saiba, por exemplo, desconfiar quando um personagem é importante, quando tal cena é ou não é importante." Em uma reportagem, Dave Pruiksma citou por exemplo a personagem dele para Atlantis - Mrs. Pachard. É uma personagem que poderia ser melhor trabalhada se houvesse um executivo "criativo" com senso de direção - descobrindo o que o público vai achar melhor.
Com a saída de Thomas Schumacher da presidência dos estúdios, dois novos executivos foram promovidos. David Stainton, assumiu a Feature Animation. Stainton, um MBA, vinha do setor responsável por produzir os chamados (por fãs) cheapquels - continuações baratas dos filmes clássicos, mas que tinha no currículo uma decisão acertada que fora sugerir e apoiar a produção de "O Corcunda de Notre Dame" em animação. Para chefia geral dos estúdios o escolhido foi Dick Cook, um veterano na Disney que começou muito jovem trabalhando na Disneyland). Stainton foi responsável por uma revolução no estúdio, que incluiu engrenar as futuras produções computadorizadas da Disney, além de treinar os animadores antigos com as novas ferramentas. Por outro lado, sua decisão mais odiada foi o fechamento dos estúdios de Paris, Orlando e mais recentemente da Austrália, o que enfureceu centenas de animadores.
Leia na PARTE III: Quais foram as últimas mudanças no estúdio? Quais os maiores pecados de Eisner? E a campanha de Roy E. Disney pela saída de Eisner.