Decadente, TV Cultura exibe programação precária
por Celbi Pegoraro
Até meados dos anos 1990, a TV Cultura foi sinônimo de boa programação infanto-juvenil, além dos ótimos documentários e telejornais. Quem viveu a época vai se lembrar de "O Professor", "Programa de Ciências", "As Aventuras de Tintin", "O Mundo de Beakman", "Anos Incríveis", etc. Há mais ou menos 15 anos, o canal da Fundação Padre Anchieta passa por um processo de desgaste que tornou a grade confusa, espantou público e diminuiu a qualidade de sua programação.
Pior que isso, a TV Cultura amarga uma crise de audiência. Se nos anos 1990, alguns programas chegavam aos dois dígitos no Ibope (caso de "Castelo Rá-Tim-Bum), hoje uma grande audiência costumar render 3 pontos de média. Atente-se que uma emissora pública (como tem sido o mantra de sua formação) não tem obrigação de dar audiência, mas precisa ser bem gerenciada e oferecer produtos de boa qualidade.
Se os programas infantis sofreram um revés com a discutível terceirização de "Cocoricó", a área jornalística foi aparentemente contaminada por membros do PSDB que praticamente destruíram o bom jornalismo feito com recursos limitados. A demissão mal explicada do diretor de jornalismo, Gabriel Priolli, após uma pauta sobre os pedágios (como repercutido na imprensa) também não caiu bem. Nem na gestão Marcos Mendonça (governo Geraldo Alckmin) a situação era tão preocupante.
Por sinal, Mendonça pelo menos assistia ao canal e teve o bom senso de transmitir as apresentações da Osesp (orquestra Sinfônica de S. Paulo) em um horário mais racional. O atual presidente da TV Cultura, João Sayad (indicado do então governador José Serra), chegou a confundir "Cocoricó" com "Vila Sésamo" em uma recente entrevista.
A situação ficou mais grave com os boatos, depois em parte confirmados, de que haverá demissão em massa (1.400 funcionários), a extinção de diversos programas ("Manos e Minas", "Login"... cujas produções ficaram sabendo do cancelamento pelos jornais) e o tradicional "Vitrine" passará por reformulação. "Roda Viva" será ancorado por Marília Gabriela....e ninguém sabe o destino do jornalista Heródoto Barbeiro. O argumento do atual presidente é de que a emissora é "cara e ineficiente", curiosamente a linha de pensamento que justificou diversas privatizações nos anos 1990 - o que não é o caso da TV Cultura.
É injustificável que a TV Cultura, patrimônio dos cidadãos paulistas e recebendo ajuda financeira do estado mais rico da federação, não tenha uma administração que tenha em mente a sua importância pública. Que o canal precisa de mudanças isso é inegável, mas é infeliz sequer pensar em paralisar e terceirizar produções (e até mesmo, para Sayad, a possível venda de terreno e estúdios pertencentes a TV Cultura).
Como se explica uma emissora cujo orçamento ultrapassa R$ 200 milhões anuais ainda exibir "Contos de Fadas" (uma produção de 1985) e "Doug" em horário nobre e praticamente em sépia? Enquanto isso, produções mais novas estão em horários ruins. O "Anima TV", que fomenta a produção nacional, foi exibido para ninguém! Diferentemente da TV Brasil, projeto do governo Lula que investe uma fortuna em um projeto totalmente ineficaz e pouco atrativo, a TV Cultura tem tradição e um público que leva em conta sua credibilidade.
O governo do estado precisa levar a TV Cultura a sério e torná-la realmente pública e não retornar a uma visão de TV estatal - que por sinal, é contra importar enlatados americanos.... mas como não produz decentemente no Brasil, acaba importando enlatados europeus e... enlatados americanos ANTIGOS.
Comparando a TV Cultura a uma loja de departamentos, o presidente da emissora João Sayad deu uma entrevista à Folha de S. Paulo explicando quais são os planos atuais para a reformulação. Confira aqui.