O Mundo Fantástico de Oz (Return to Oz) - 1985
Por Celbi Pegoraro (publicado originalmente em 20/07/2005)
Em 19/07/2005 os telespectadores da tradicional Sessão da Tarde na TV Globo tiveram chance de conferir um filme raro. “O Mundo Fantástico de Oz” (Return to Oz). Produção Disney de 1985, o filme foi um fracasso de bilheteria e tornou-se uma das inúmeras produções ocultas na primeira metade dos anos 80. Se não quiser saber spoilers sobre a história, pule o próximo parágrafo, ou leia apenas as primeiras frases.
O filme conta a história de Dorothy Gale, que devido a família pensar que possui problemas psicológicos (por suas fantásticas histórias sobre Oz) é levada para uma (sinistra) instituição para sofrer um tratamento de choque. A noite, na hora do tratamento, ela é salva pela falta de luz causada por um grande temporal. Mesmo assim, consegue escapar do local pelo rio com enorme correnteza. No dia seguinte acorda, quem diria, no mundo de Oz. Mas a felicidade de estar de volta a este mundo fantástico transforma-se em pesadelo quando percebe que tudo está em ruínas e a Cidade das Esmeraldas completamente deserta, agora habitada por inúmeras estátuas de pedra. O reino de Oz agora é liderado pelo Rei Nome e a feiticeira Mumbi, que captura Dorothy. Mas ela consegue escapar com ajuda de seus novos amigos Tik Tok, a galinha falante Billina, Jack Cabeça de Abóbora e o Alce. Eles voam para a montanha do rei Nome, situada no deserto da morte (quem o toca torna-se areia) para resgatar o Espantalho (que era o rei antes disso). Para isso, eles precisam aceitar um terrível jogo proposto pelo rei. No fim, Dorothy consegue vencer o rei e restaurar toda a glória de Oz após libertar a mística princesa Ozma.
“Return to Oz” foi lançado nos cinemas americanos em 21 de junho de 1985 com direção de Walter Murch. Com 109 minutos, o filme tem no elenco Fairuza Balk como Dorothy. Dois atores tem papéis duplos, o que torna a situação mais interessante. São eles Nicol Williamson (Dr. Worley e o rei Nome) e Jean Marsh (enfermeira Wilson e Feiticeira Mumbi). Piper Laurie é a tia Em, Matt Clark é o tio Henry, Emma Ridley é Ozma, Michael Sundin é o responsável pelo “exército” de Oz (Tik Tok – Sean Barrett é sua voz), Peter Elliott é um dos “rolantes”, Pons Maar sendo o líder deles. A galinha Billina tem voz de Denise Bryer, Justin Case faz o Espantalho, John Alexander é o Leão Covarde, e o Homem de Lata é trabalho do Deep Roy. Atenção: Deep Roy é o ator que faz os Oompa Loompas na nova versão de “A Fantástica Fábrica de Chocolate” de Tim Burton.
Foi um período um tanto tumultuado até meados dos anos 80. Steven Spielberg estourou com “E.T. o Extraterrestre”, mas o mundo dos filmes “família” estava em crise com produções consideradas sombrias ou violentas demais para o público infantil. “O Cristal Encantado” de Jim Henson fracassou por ser considerado sombrio e até violento demais. Disney sofreu em dobro em 1985 – ano dos filmes “O Caldeirão Mágico” e “O Mundo Fantástico de Oz”. Ambos os filmes foram fracasso de bilheteria e de público, com críticas pelo tom sombrio demais em diversas cenas. Especialmente para a época.
Produção caprichada
Vendo hoje, os efeitos podem soar datados, mas para 1985 era muito moderno. A produção de “O Mundo Fantástico de Oz” levou três anos em desenvolvimento e pesquisa nos EUA e Grã-Bretanha. Novos sistemas de controle remoto (animatrônica), fotografia por stop-motion, e um processo pioneiro de animação claymation, criaram um mundo que mescla real e surreal. A filmagem levou dezesseis semanas, incluindo produção nos estúdios Disney e em cinco estúdios da Elstree. Uma locação adicional foi em Salisbury Plain, o cenário para a “Stonehenge”.
Nomes famosos estão na equipe deste filme. Na manipulação de bonecos temos Mac Wilson e Brian Henson (filho de Jim Henson). Nos créditos tem agradecimentos especiais à George Lucas que deu um toque nos efeitos. E falando em efeitos, o filme teve uma indicação ao Oscar para efeitos especiais em nome de Will Vinton, Ian Wingrove, Zoran Perisic e Michael Lloyd.
Destaque para os efeitos incríveis com a animação dos Nomes – criaturas horríveis de pedra, especialmente nas seqüências finais.
Disney e OZ?
Por que Disney produziria um filme sobre Oz? A história é antiga. Em 16 de novembro de 1954, Disney comprou os direitos de 11 dos livros de Baum, de seu filho Robert S. Baum. Originalmente, as histórias de Oz foram consideradas como base para um especial de televisão em duas partes para a série “Disneylândia”. Em abril de 1957 o estúdio contratou Dorothy Cooper para escrever a sinopse da história (chamada “Dorothy Returns to Oz”). Em agosto do mesmo ano, o título mudou para “The Rainbow Road to Oz” e era baseado principalmente na obra “The Patchwork Girl of Oz”. Mas tão logo começou a pré-produção, Disney percebeu que o novo projeto estava se tornando muito ambicioso para um programa de TV.
Segundo o livro “Disney A to Z”, Walt Disney anunciou em novembro de 1954 que um filme musical milionário baseado nas histórias de Oz seria produzido. Bill Walsh foi chamado como produtor e Sid Miller como diretor. Miller compôs números musicais e canções com Tom Adair e Buddy Baker. Para chamar atenção do público, Disney exibiu um curto segmento no programa “Disneylândia” (chamado “The Fourth Anniversary Show of Disneyland” de 1957) com o musical “Rainbow Road to Oz” – contendo dois números musicais em três cenários, incluindo uma enorme estrada de tijolos amarelos. Esse episódio de “Disneylândia” é raríssimo e a procura por ele é grande.
Com toda essa atenção em cima do projeto, Walt Disney temeu que outro estúdio comprasse o décimo segundo livro da saga de Oz para uma adaptação. Conseguiu comprar os direitos do último livro da Lippert Pictures, pagando mais por ele do que por todos os 11 que já possuía os direitos. Em fevereiro de 1958, o projeto Disney foi cancelado devido às frustrações que Walt tinha com o roteiro e os designs, e talvez (obviamente) temendo comparações com o musical clássico O Mágico de Oz (1939) da MGM, que exatamente nesta época estava tendo popularidade renovada com exibições na televisão.
O filme no Brasil
O Mundo Fantástico de Oz teve uma discreta aparição nas locadoras em meados dos anos 80, num período onde o mercado de vídeo ainda engatinhava. Passado o momento e com a ascensão das locadoras, o filme acabou sendo esquecido. Até hoje tenho e revejo uma cópia legendada que tenho de 1986. O DVD com o filme foi lançado e relançado apenas nos últimos anos. Curiosamente não pela Disney, que vendeu os direitos de distribuição do filme para outras empresas. A última versão do DVD é melhor porque traz num extra a entrevista com Fairuza Balk falando dos tempos da produção.
A Rede Globo exibiu o filme na Sessão da Tarde (19/07) chamando atenção de muitos fãs desde suas chamadas na noite anterior nos intervalos comerciais. Gravei da TV para avaliar se houveram cortes das chamadas cenas ditas “pesadas” (como Mumbi e suas 30 cabeças!). Ainda preciso rever, mas aparentemente não houve cortes, ou foram minúsculos. A dublagem, pelo visto, foi refeita. Mas o trabalho de adaptação é muito bom. Destaque para as piadas da galinha Billina. Só reclamaria da tradução para os “Wheelers” (homens com rodas no lugar de pés) que na versão legendada eram chamados de “Ciclo-Homens”, mas que para efeitos de sincronização com os lábios tornaram-se “Rolantes”. O nome do Rei é “Nome”, mas na dublagem soa como “Gnomo”. A pronúncia correta é “nôme” (som bem fechado)!
Entre outras curiosidades, está o fato do cartaz do lançamento brasileiro de O Mundo Fantástico de Oz ter sido amplamente divulgado nos gibis Disney da Editora Abril. E com o “Walt Disney Productions”! No original, a Disney evitou colocar a própria marca, assim como fez recentemente com “Piratas do Caribe” no cinema. Tudo para evitar associação com as tais cenas mais “pesadas”. Outro ponto interessante é que existe o estranhamento quanto aos personagens Espantalho, Leão Covarde e Homem de Lata, mas na verdade dizem que os personagens neste filme tem um visual mais fiel ao que Baum imaginava. Bem diferente dos personagens do clássico "O Mágico de Oz".
Para os fãs da Parada Elétrica (Main Street Electrical Parade) dos parques Disney, a Disney criou um carro inspirado no filme que foi exibido por um curto período em 1985, acompanhado da trilha de David Shire (compositor do filme).
Vídeo - trailer de "Return to Oz" (1985)
Vídeo - cena das cabeças de Mumbi
*vídeos do site You Tube