Looney Tunes: De Volta a Ação (Looney Tunes: Back in Action) - 2003 - Por Celbi Pegoraro
Por Celbi Pegoraro (originalmente publicado em 24/01/2005)
Comecemos com uma eterna dúvida: Por que a Warner Bros. não faz um longa 100% animado com os Looney Tunes? Acho que após conferirem filmes como Space Jam ou Back in Action, os fãs de Pernalonga, Patolino e toda turma gostariam de saber como seria um longa totalmente animado com os personagens. Infelizmente existem alguns obstáculos, mas uma coisa é certa: talento para animação existe em abundância.
Quando os fãs de animação ouviram pela primeira vez que um novo longa estrelado por Pernalonga e Patolino estava em produção, a primeira lembrança não tão boa assim é "Space Jam" (1995). Space Jam (que no Brasil ganhou o subtítulo infame de "O Jogo do Século) mostrou os Looney Tunes ajudando Michael Jordan a salvar o mundo através de um jogo de basquete. Filme que teve um sucesso muito exagerado, mas que é um tanto medíocre. Tirando a parte animada (supervisionada por Bruce Smith), o filme foi basicamente um veículo de promoção para o atleta Michael Jordan. O roteiro era fraco e muitas das piadas sem graça. Ainda havia o crédito de Bill Murray e Wayne Knight estarem no elenco, mas isso não ajudou muito. Mesmo com seqüência animadas de boa qualidade, todo o resto não conseguiu segurar o filme. E foi por água a baixo a idéia de querer superar "Uma Cilada para Roger Rabbit" no quesito interação animação/live-action.
Ok, "Looney Tunes: De Volta a Ação" não foi a decepção esperada. Na verdade, o filme é muito superior a "Space Jam" em vários aspectos. Mesmo assim, existem umas falhas irritantes que poderiam ser facilmente removidas se não fosse a falta de visão dos encarregados da produção. Mas vamos a uma idéia geral do filme. O filme começa numa cena que nos remete aos curtas clássicos com os personagens atuando em uma cena na floresta. Logo depois somos apresentados aos diretores da Warner Bros. Animation que estão preocupados com a situação dos novos filmes. Os irmãos Warner (os chefões do estúdio) são forçados a demitir uma de suas estrelas (o Patolino) e enviam uma executiva - Kate Houghton (interpretada pela bela Jenna Elfman) para dar as más notícias ao pato. Sem emprego, Patolino torna-se amigo de um dos seguranças do estúdio (que sonha em ser um dublê) D.J. Drake (Brendan Fraser). Logo em seguida, ficamos sabendo que o pai de D.J. (interpretado pelo ex-James Bond Timothy Dalton) é um super espião tentando proteger um diamante secreto que está na mira do maníaco presidente da Corporação ACME - Mr. Chairman (um Steve Martin surpreendentemente irritante e sem graça). Ele pretende usar o diamante para fins maléficos. D.J. precisa ajudar o pai buscando o diamante em Las Vegas, e para isso leva o Patolino para a aventura. Enquanto isso, de volta a Hollywood, os chefões descobrem que foi um erro demitir Patolino, forçando Kate e Pernalonga numa jornada para convencer o pato a retornar ao trabalho.
O filme foi escrito por Larry Doyle e dirigido por Joe Dante ("Gremlins") que é um fascinado pelos personagens da Warner, o que certamente ajudou a não descaracterizar muito os personagens, como ocorreu em "Space Jam". Na verdade, manter o espírito Looney Tunes nos dias de hoje é um tanto complicado. Os curtas clássicos funcionam justamente por contarem histórias simples - saindo de grandes mestres da animação Warner como Bob Clampett, Friz Freleng, Bob Mckimgon, Tex Avery e Chuck Jones. Além disso não podemos esquecer do dublador Mel Blanc e do diretor musical - o excelente Carl Stalling. Transformar as aventuras de sete em noventa minutos não é fácil. Nos anos 90, a Turner (depois comprada pela Warner) se aventurou produzindo um longa animado de Tom & Jerry, que de qualidade só tinha a trilha (de Henry Mancini). Tom & Jerry - O Filme se mostrou arrastado por não ter elementos suficientes (nem qualidade técnica) para suportar quase 90 minutos. Já Looney Tunes: De Volta a Ação parece sofrer um pouco com o excesso de elementos para segurar o filme. Eu esperava mais algo em torno da jornada para trazer Patolino de volta ao estúdio, ao invés do envolvimento de todos em espionagem e em grandes planos malvados. Claro que um filme desses é excelente para tentar usar muitos personagens, mas acho que fica cansativo tentar encaixar a maioria dos personagens só para constar. Alguns personagens fazem umas pontas totalmente sem sentido, apenas para tentar mais uma piada. Talvez fosse mais interessante escolher uns 5 ou 6 personagens e fazer o filme em torno deles.
O filme, em princípio, não parece ter sido feito para os adultos fãs dos curtas clássicos, mas sim para a criançada descobrir os personagens na tela grande. Joe Dante não só utilizou a fórmula das piadas cínicas dos personagens, como aproveitou o uso do humor físico para aumentar a interação e satisfazer a criançada. Pode até ser, mas a produção é recheada de gags e citações que só os mais adultos vão entender. Como explicar à criançada a citação da cena do chuveiro em Psicose? Outras citações são mais inocentes como bem no início quando Pernalonga encontra o Nemo (sim, aquele do filme!). Dependendo do espectador, ele terá bons momentos vendo este filme, porque realmente têm cenas engraçadas.
Os produtores quiseram mostrar os estúdios Warner como um ambiente mais glamuroso, o que certamente dá um charme (apesar do clima "fake" do ambiente). Infelizmente a produção é lotada de cross-promotion com o intuito de mostrar mais e mais personagens que não tem nada a ver com os Looney Tunes. Pegou mal, por exemplo, ver Scooby-Doo e Salsicha conversando com o ator que interpreta este último nos filmes live-action. A pior piada do filme talvez ocorra quando os principais personagens do filme estão no deserto e todos vão de encontro a uma suposta miragem - um gigantesco Wal-Mart. Gozado que até os personagens tiram sarro disso, mas no fundo não tem graça nenhuma. E se toda a promoção não irritou o espectador, basta esperar pelas cenas de Mr. Chairman. Sou fã do Steve Martin, mas é triste vê-lo atuando de forma tão irritante e sem graça. Dá vontade de pular as cenas dele no DVD. Aliás, boa parte dos atores atua de forma muito caricata. O único que realmente parece entender qual tipo de filme é esse foi o Brendan Fraser (que deve ter se acostumado após atuar com personagens em stop-motion em Monkey Bone).
Falando especificamente da animação, esta parte é tecnicamente perfeita. Escolheram um grande profissional para dirigir e supervisionar a animação - Eric Goldberg (que foi o animador do Gênio em Aladdin e responsável pelos segmentos "Carnaval dos Animais" e "Rhapsody in Blue" em "Fantasia 2000"). Eric é um apaixonado pelos desenhos Warner e fez de tudo para fazer justiça com os personagens dos velhos mestres. A equipe de animação é de primeira linha, muitos vindos da Dreamworks e Disney após as primeiras crises, incluem Dave Brewster, Richard Bazley, Ron Husband, Tom Sito, Mark Kausler, Brian Ferguson, Chris Wahl, James Baker, T. Daniel Hofsted e Joe Haidar. Esses animadores conseguiram dar um charme todo especial aos personagens, o que certamente deixarão os fãs muito felizes. Ou talvez nem tanto. A única ressalva em relação a animação (e que muitos puristas criticaram) foi o uso de uma técnica (computadorizada) para deixar os desenhos mais tridimensionais na tela. A idéia da técnica é evitar que os personagens fiquem achatados comprometendo a interação com os atores reais. Por um lado, isso funciona muito bem. Por outro, você perde um pouco da espontaneidade dos desenhos dos artistas. Pelo menos existe a compensação de ver os traços da animação durante o início dos créditos finais.
Diria que o filme é um tanto episódico também. Podemos dividir a produção em diversas seqüências como "estúdios Warner", "Las Vegas com Eufrasino", "deserto", "laboratório", "museu do Louvre", "selva" e "espaço com Marvin". Aliás, acho que a parte mais arrastada do filme (e que é a mais importante) seja a dos personagens na selva. Mas talvez seja a sensação dada por ver os personagens em situações tão diferentes a todo o instante. A seqüência espacial tem seus méritos - inclui a disputa entre Pernalonga e Marvin - o marciano (a lá "Star Wars") e temos a participação especial de Duck Dodgers. Mas sem dúvida a grande cena do filme é a perseguição de Hortelino atrás de Pernalonga e Patolino no museu do Louvre. A idéia por si só traz muitas possibilidades: personagens entrando e saindo dos quadros dos mais variados estilos. E claro, a animação segue o que se vê nos quadros, desde o "derretido" dos quadros de Dalí ao "Grito" de Munch. Eu só desejaria que a seqüência fosse um pouco mais longa, mas o trabalho nesta cena é genial. Diria até que o filme vale só por esta parte.
Tanto elogio para a animação, mas aí vai uma crítica para o final. Com tanta qualidade nos desenhos, nada explica (disseram que a decisão foi de última hora) a inclusão de personagens em CGI como o gigantesco cão mecânico. Não que o trabalho esteja ruim, mas é um elemento a mais que torna a história mais complexa e não abre espaço para as verdadeiras estrelas animadas do filme. Mesmo com falhas graves, o filme consegue divertir com seus momentos de grandeza.
Curiosidades Looney Tunes
- Joe Dante (o diretor) é um super fã e conhecedor dos desenhos animados. Diretor de filmes como Viagem Insólita, Pequenos Guerreiros, Gremlins e Gremlins 2: A Nova Geração, ele conseguiu para este último a autorização da Warner para usar os personagens na produção. Para quem puder conferir o VHS antigo de Gremlins 2, vale a espiada nos comentários hilários de Patolino durante os longos créditos do filme. Você não esquece as expressões do pato e frases como "-Vocês não tem casa não? Ainda estão vendo isso?" Falando em Gremlins, o animador/diretor Chuck Jones faz uma ponta no filme original!
- Não só Joe Dante é fã de animação como seu parceiro na produção também é. Estou falando do veterano compositor Jerry Goldsmith (já falecido), que é responsável pelas trilhas de muitos filmes do diretor. Goldsmith criou uma trilha muito boa com temas breves e divertidos. Particularmente sou fã do tema do Eufrasino em Las vegas. Música adicional foi criada por John Debney e John Frizzel (curtas) Jerry Goldsmith compôs trilhas para vários filmes animados, incluindo A Ratinha Valente (1982) e Mulan (1998). Também fez uma trilha de 5 minutos para o filme IMAX da atração "Soarin Over California" para o parque Disney´s California Adventure inaugurado em 2001. Ainda sobre a trilha de "Looney Tunes: De Volta a Ação": durante a produção a notícia era que a trilha seria feita por Danny Elfman (O Estranho Mundo de Jack).
- Eric Goldberg não foi apenas o diretor da parte animada do filme. Ele animou algumas cenas. Mas o que poucos sabem é que ele dubla alguns personagens. É dele a voz do Piu-Piu, do Marvin-o Marciano e do Ligeirinho.
- "Looney Tunes: De Volta a Ação" foi filmado em formato Cinemascope. E pelo visto, o DVD nacional apresenta a versão Pan e Scan do filme, o que posso assegurar prejudica muito na hora de avaliar ou se divertir melhor em certas cenas. Fica a dica para que os fãs procurem a versão em widescreen.
- Ligeirinho tira sarro dele próprio ser politicamente incorreto. Na verdade o filme brinca com uma coisa que irritou fãs nos EUA. O personagem, considerado estereótipo negativo dos mexicanos, foi condenado a ficar de fora da tevê americana por muito tempo.
Ficha Técnica
Produtor:Allison Abbate, Chris De Faria; Produtor executivo: Larry Doyle, música de Jerry Goldsmith; com Brendan Fraser, Steve Martin, Jenna Elfman. Diretor de animação: Eric Goldberg. Diretor: Joe Dante