Especial - Anima Mundi 2006
Por Celbi Pegoraro (04/08/2006)
Aconteceu entre 14 e 23 de julho no Rio e entre 26 e 30 de julho em São Paulo, a 14ª edição do Festival Internacional de Animação do Brasil - Anima Mundi. O Animagic conferiu o festival durante dois dias em São Paulo e traz, além dos destaques geral do festival, um pouco do que presenciou no dia 26 e em 30 de julho.
O Festival em São Paulo ocorreu no Memorial da América Latina e felizmente parece ter tido mais procura que em anos anteriores. Isso pôde ser percebido na que talvez tenha sido a maior falha do evento: as filas. Com a modernização dos bilhetes de ingresso e a lentidão dos computadores, foi comum aguardar mais de uma hora na fila para comprar ingressos do dia ou antecipados (demais dias). Alguns amargaram mais de duas, três horas em filas. Outra coisa visível foi o menor número de expositores no Anima Mundi, enquanto os pontos de alimentação cresceram de forma notável. Muitas pessoas, até por desconhecer um pouco a lógica do festival, estavam um tanto perdidas, mas é interessante que o público em geral tenha acesso e reflita sobre as produções.
Os cartazes e a vinheta do Anima Mundi de 2006 tiveram como estrela o personagem Cão de Guarda (Guard Dog) do veterano Bill Plympton. A animação da vinheta foi feita pelo animador Marcelo Marão com música de Léo Mendes. Boa vinheta mas não tão boa quanto a do ano passado com a gorda Berry, criação da animadora britânica Joanna Quinn.
Entre os longas-animados do festival estiveram "Wood & Stock: Sexo, Orégano e Rock´n´Roll", de Otto Guerra, baseado nos personagens de Angeli - certamente o filme mais procurado e comentado do evento. "Terkel in Trouble" de Stefan Fjeldmark, Kresten Andersen e Thorbjorn Christoffersen (da Dinamarca) e "Brichos" de Paulo Munhoz e tadao Miaqui.
O júri profissional deu o grande prêmio para o curta "Dreams and Desires - Family Ties" (Joanna Quinn, Reino Unido). O segundo lugar foi para "Creature Conforts - Monarchy Business" (Richard Golszowski , Reino Unido). Em terceiro "Guide Dog (Bill Plympton - EUA).
O Animagic conferiu na quarta, dia 30, a excelente palestra "The Art and Flair of Mary Blair" ministrada pelo historiador e animador John Canemaker. Mary Blair trabalhou como diretora de arte nos estúdios Disney nas décadas de 1940 e 1950. Integrou o grupo de artistas e animadores que acompanhou Walt Disney em sua visita à América do Sul em 1941. Durante essa viagem, as cores fortes e a cultura local tocaram Blair profundamente, influenciando o seu trabalho posterior. Em sua palestra, John Canemaker mostrou a arte de Blair em cenas memoráveis de quatro fases. A primeira, South of the Border mostrou cenas dos filmes produzidos após a viagem aos países sul-americanos, como "The Three Caballeros". A segunda, Package Films mostrou cenas dos curtas "Once Upon a Wintertime", "Johnny Appleseed" e a perseguição final de Ichabod em "The Legend of Sleepy Hollow". A terceira parte The Big Three teve a fuga a meia-noite de “Cinderela” (1949), a marcha das cartas de “Alice no País das Maravilhas" (1951) e a cena musical "Following the Leader" do animado “Peter Pan” (1953). A palestra terminou com "It´s a small World and Beyond" com trabalhos free-lancer e suas últimas obras na Disney como na atração "It´s a Small World" dos parques temáticos Disney.
Os cariocas tiveram a chance de conferir outra palestra de Canemaker sobre o pioneiro Winsor McCay., celebrando o centenário de "Little Nemo in Slumberland", a genial história em quadrinhos criada em 1905 por ele. Além de desenhos feitos por McCay, Canemaker mostrou quatro filmes desse animador pioneiro: “Little Nemo” (1911), “How a Mosquito Operates” (1912), “Gertie the Dinosaur” (1914) e “The Sinking of the Lusitânia” (1918).
Outra palestra bem comentada foi com animador Ian Mackinnon. Além de apresentar a sua empresa Mackinnon & Saunders no Papo Animado, brindou o público do Anima Mundi com uma palestra sobre o aprimoramento técnico dos personagens para o longa-metragem “Corpse Bride” (A Noiva Cadáver) de Tim Burton.
Os Papos Animados foram muito populares. John Canemaker apresentou um com sua série de curtas incluindo o vencedor do Oscar 2006 “The Moon and the Son” - um diálogo imaginário com seu pai, um explosivo imigrante italiano.
Kihachiro Kawamoto e Gil Alkabetz também se apresentaram nos Papos Animados.
A equipe do Animagic (Celbi Pegoraro, Fernando Ventura e Sandra Monte) estiveram em duas sessões do domingo, dia 30. Conferimos a sessão Infantil 5. Aliás, recomenda-se não pular essas sessões porque geralmente existem bons curtas na seleção (e muitos deles de um infantil questionável). Dessa sessão os bons destaques foram: "O Ursinho" (The Little Bear), produção russa de Natalia Berezovaya usando animação tradicional e uma introdução em stop-motion. Com apenas um minuto "E O vento... me levou!" do brasileiro William Côgo é de extremo bom gosto (também usando animação tradicional) sobre o garoto Leleco querendo brincar com sua pipa, mas o vento resolve não ajudar. Aprovadíssimo pelo público (mesmo tendo uma narrativa irregular), o curta em CGI "Schack" da sueca Pernilla Hindsefelt recebeu aplausos. "Numa velha biblioteca, as peças de um jogo de xadrez se preparam para a batalha. Algumas peças examinam os oponentes, enquanto outras se escondem. Quem será o vencedor?". E por fim, um curta tradicional (feito à lápis) da Disney, "A Vendedora de Fósforos" ("The Little Matchgirl") de Roger Allers, é a clássica história de Hans Christian Andersen sobre uma menininha pobre que vislumbra uma vida de fartura dentro da chama dos fósforos que ela vende. O final do curta fez boa parte do público se emocionar e também mereceu aplausos da platéia.
Complementando a palestra de John Canemaker sobre a artista Mary Blair, o Anima Mundi apresentou duas sessões especiais com filmes contendo bons exemplos do trabalho dela. Os dois filmes da Disney, exibidos no domingo foram "Alice no País das Maravilhas" (1951) e "Você já foi a Bahia?" (The Three Caballeros). Estivemos presentes na sessão deste último que estava completamente lotada. Importante ressaltar como este filme de 1945 conseguiu conquistar uma platéia jovem com suas piadas, consideradas por muitos críticos, ultrapassadas. Além do fato de que várias piadas hoje em dia assumem outros conceitos. Mas personagens como Panchito, Zé Carioca e Aracuã (e até mesmo o Gauchito) tiveram excelente aceitação da platéia.
E falando em platéia, apenas uma sugestão aos organizadores do Anima Mundi. Pensar talvez em intervalos de 15 minutos entre as sessões. É complicado ir de uma sessão para outra, ainda pior quando a primeira sofre um atraso. Além disso, as pessoas desesperadas saem mais cedo das sessões, criando situações delicadas especialmente em palestras (pessoas deixando a sala antes do término). E por parte do público, recomenda-se mais bom senso na hora de fotos e uso de celular, além do respeito aos filmes exibidos. Dito isso, o Festival mostra que está crescendo em São Paulo e necessita de cuidados especiais para o ano que vem.