ANIMATION-ANIMAGIC.COM

Pergunte ao Animagic - nº 3

Por Celbi Pegoraro

Mais uma coluna "Pergunte ao Animagic!" está no ar, excepcionalmente nesta quarta, mas vamos ao que interessa. Nesta edição resolvi publicar respostas de algumas dúvidas que as pessoas sempre me fazem envolvendo os temas crise da animação tradicional, ironicamente relacionado ao excesso de filmes de animação no cinemas.

Por que dizem que existe uma crise na animação?

Isso na verdade não é dito em terras brasileiras. Por aqui o máximo que se ouve ou lê é sobre as dificuldades para se produzir um filme de animação, ainda que jovens talentos tenham se aventurado (com sucesso) no mundo dos curtas-metragens. Mas nos EUA, país maior produtor de filmes de animação, a crise pode ser vista de muitos ângulos, seja ele de estilo, de gênero, de baixo auto-estima (por parte dos artistas), conflitos criativos ou econômicos. Aqui vou traçar apenas o início de um desses ângulos, que tem a ver com o lado econômico.

A animação de longas-metragem em geral (nos EUA) sofreu em dois pontos. O primeiro foi em 1994 com o sucesso de "O Rei Leão". O sucesso estrondoso fez os estúdios concorrentes entrarem no mercado da animação, e para complicar o Jeffrey Katzenberg (então chefe dos estúdios) brigou com o Michael Eisner (na época presidente da companhia), saiu da Disney e fundou a DreamWorks. Nessa época todos achavam que poderiam produzir bilheterias de US$300 milhões só nos EUA.

O outro ponto de choque na animação foi "Shrek" em 2001, que de algum modo mostrou que a animação CGI tinha o mesmo poder de fogo de um "O Rei Leão" não só em bilheteria mas em produtos e desdobramentos criativos. Curiosamente a estréia de "Shrek" coincide com a queda da Disney com "Atlantis". O mais interessante é que "Atlantis" e "Planeta do Tesouro" são projetos belíssimos. Nos livros sabe-se muito mais da mitologia por trás das histórias do que nos é mostrado em animação. Uma pena o estúdio estar em tamanho caos na época para sair algo realmente perfeito.

Vale lembrar que estamos atualmente no caminho da anti-crise. Ainda temos estúdios como Sony e Blue Sky produzindo vários titulos, mas já houve desmembramento na DreamWorks (com o rompimento da parceria com a Aardman de "Wallace e Gromit") e a Disney comprou a Pixar e assinou parceria com a produtora de Zemeckis.

Afinal, produzir em animação CGI (computadorizada) é mais rápido e barato do que animação feita à mão?

Animação computadorizada tem sido inserida nos clássicos Disney desde o começo dos anos 80. Alguns exemplos não são perceptíveis, outros se destacam da cena. As engrenagens do relógio Big Ben em "O Ratinho Detetive" (1986) são geradas no computador, mas como as grades computadorizadas foram impressas, todo o trabalho foi pintado manualmente dando uma impressão tradicional a cena. Escrevi sobre o filme neste link:

Sobre a animação gerada no computador ser mais ágil e barata, isso é muito relativo. Ficou barato para os pequenos estúdios que não precisam gastar mais com acetatos e departamento de pintura (daí o trabalho fica mais rápido). Mas já conversei com alguns animadores da Disney e da DreamWorks que disseram que nos grandes estúdios o computador não trouxe agilidade e muito menos economia. Uma certa economia ocorreu no início da implantação maciça dessa técnica, mas os estúdios continuam gastando demais nas produções e muitas vezes leva-se mais tempo para se produzir que um filme tradicional (feito a mão).

Vale lembrar que o Jeffrey Katzenberg acaba de anunciar que todas as novas produções da DreamWorks ganharão um ano a mais de produção, pois perceberam que estavam comprometendo as histórias para lançarem mais filmes por ano. A regra na DreamWorks é desacelerar. A Disney parece fazer a mesma coisa.

E o projeto "Gnomeo e Julieta" continua em produção?

"Gnomeo e Julieta", projeto tendo Elton John como compositor e produtor, foi cancelado em abril de 2006 pela Disney, mas agora continua sendo produzido pela Rocket Pictures. Esta adaptação da obra de Shakespeare fazia parte do plano de contingência da Disney caso perdesse a Pixar para outro distribuidor. Assim como fez nas parcerias com "Valiant" e "Selvagem", este projeto seria feito pela produtora Rocket Pictures na Inglaterra. O problema é que com a Pixar comprada pela Disney, John Lasseter (o novo chefão) não gostou do projeto. Ainda assim, resolveu assinar um acordo com a Miramax Films que agora deve distribuir o filme.

A produtora de Elton John, Rocket Pictures, promete o lançamento de "Gnomeo e Julieta" nos EUA para o Natal de 2008. Na época do anúncio do projeto foram anunciados como dubladores: Ewan McGregor (Gnomeo), Kate Winslet (Julieta), Judi Dench (Enfermeira) e Greg Ellis (Tybalt). O filme, concebido para ser um musical, terá Elton John e o letrista Tim Rice como parceiros nas composições (os dois trabalharam juntos em "O Rei Leão", "O Caminho para El Dorado" e "Aïda". Foi também divulgado que pela presença da canção "The Bitch is Back", o filme sofreu uma alteração na classificação de censura onde recomenda-se a orientação dos pais.

Ok, a coluna da semana fica por aqui. Nova edição na próxima segunda-feira. Até lá!

Voltar