Pergunte ao Animagic - nº 4 (American Dog)
por Celbi Pegoraro
Vamos a mais uma coluna semanal do "Pergunte ao Animagic!". Desta vez respondendo duas grandes dúvidas. Uma referente a tantas mudanças nos atuais projetos de animação. E outra sobre o sistema CAPS criado pela Disney no fim dos anos 80.
Por que tantas mudanças na produção dos futuros filmes de animação Disney, como "A Família do Futuro" e "American Dog"?
A resposta é um tanto simples. A divisão responsável pelos estúdios de animação Disney tem novos presidentes. Oriundos da Pixar, John Lasseter e Ed Catmull desejam implantar uma nova visão no estúdio e isso inclui alterar projetos que possam ser problemáticos. Alguns devem se lembrar que Lasseter teria tentado tirar o vilão de "A Família do Futuro", aquele que parece o Dick Vigarista. Mas pelo andar do filme, ficou melhor não mexer em muita coisa.
Mas agora Lasseter tem mexido mais em projetos como "American Dog". Além de afastar Chris Sanders (criador e diretor de Lilo & Stitch) do projeto, um novo diretor assumiu o cargo - Chris Williams, argumentista que mostrou bons trabalhos em "Mulan" e "A Nova Onda do Imperador". E muita coisa no filme está sendo modificada de sua idéia original. Por que não cancelam? Não dá porque a Disney já acertou diversos acordos com empresas para licenças, produtos, brinquedos com a marca do filme, ou seja, "American Dog" precisa ser lançado em 2008.
Segundo informantes do site Jim Hill Media, a última de John Lasseter foi cortar os curiosos personagens imaginados por Chris Sanders para "American Dog". Saem o gigante coelho radioativo e o gato caolho (imagens ao lado). O filme também terá toda sua ambientação alterada, tudo porque na idéia de Sanders o filme se passa no Sudoeste americano - exatamente o mesmo cenário do filme "Carros" (dirigido pelo próprio Lasseter). A troca seria o temor que o público não encontrasse novidades. O protagonista também foi bastante alterado. Deixou de ser um cãozinho redondo e marrom ao estilo "Stitch" para um estilo mais heróico - um pastor alemão branco. Alguns spoilers a frente.
O nome do protagonista agora é Bolt, e ele estrela com Penny (uma garotinha de 12 anos) um show de televisão chamado "American Dog" (um programa descrito como sendo um cruzamento entre "Jonny Quest" e James Bond). Nesse programa eles lutam contra o crime e Bolt usa seus super poderes como um latido alto o suficiente para acabar com qualquer um que esteja em sua mira. Mas Bolt acha que ele realmente é um super herói e não um simples ator de TV, e Penny realmente é apenas uma atriz apenas contratada para fazer sua parte e não alguém que realmente o ama. O cãozinho não compreende que muitos de seus grandes feitos são trucagens feitas pela equipe do estúdio.
Bolt então é um cão que vive um mundo de fantasia, sem nunca questionar a razão da sua existência. Nunca viu como é o mundo fora dos estúdios. Mas de alguma forma ele consegue sair, e acaba sendo enviado para Nova York. E é nessa situação adversa, longe de casa, que o cãozinho decide usar seus poderes para voltar para casa. Lógico que no fim ele precisará de amigos, como o Sr. Mittens - na verdade uma gata fêmea cujo dono desatento o chama de outro modo, e Rhino - um hamster que nunca deixa de se exercitar em sua bola de plástico.O hamster é um grande fã do show "American Dog", tendo visto e memorizado o que acontece em todos os episódios. O trio enfrentará muitos obstáculos para levar Bolt de volta a Hollywood, sendo que o cão vai tentar testar seus poderes em diversas situações, como salta de uma ponte sobre um trem em alta velocidade.
E lógico, haverá um momento no meio do filme quando Bolt perceberá que não é um super-herói, e que "American Dog" é apenas um programa de televisão. No site do colunista Jim Hill, ele reforça as críticas dessa mudança de história, já que diversas pessoas dentro do estúdio acham a premissa muito semelhante a história do astronauta Buzz Lightyear em "Toy Story" (1995). Outra mudança poderá vir do marketing da Disney, que pleiteia um novo título para o filme - o preferido parece ser "Hollywood Dog".
É uma pena que o projeto original de Chris Sanders tenha sido descartado - o próprio Sanders se desligou oficialmente da Disney há poucas semanas, mas tomara que Lasseter e a equipe Disney consiga criar algo bem imaginativo e divertido para o anos de 2008.
O que é o software criado pela Disney chamado CAPS?
A Disney sempre buscou meio de facilitar a produção de seus filmes. Segundo consta, alguns executivos da Disney, com o apoio de Roy Disney, queriam uma verba para financiar o desenvolvimento de um software para que pudessem colorir e manipular as cenas. Mas consultados os chefões, Eisner e Wells achavam que seria uma fortuna para fazer isso e seria um dinheiro "sem volta", já que na prática é o desenvolvimento de uma ferramenta que não será vendida. Como Frank Wells previa, o orçamento do sistema CAPS realmente foi bem mais alto que a previsão original. Não tenho certeza, precisaria conferir, mas os custos finais dessa ferramente eram quase suficientes para a produção de um longa animado.
Computer Animation Production System (CAPS) foi criado conjuntamente pela Disney e Pixar numa época em que o segundo estúdio só fazia curtas experimentais e desenvolvia softwares.
Desde então, a Disney tem desenvolvido alguns softwares em escala menor para determinados efeitos nos filmes. O maior programa desde o Caps talvez seja o Deep Canvas, que foi usadao para animar a selva de "Tarzan", cenários de "Atlantis" e "Planeta do Tesouro", onde é possível colorir cenários tridimensionais.
Vale lembrar que a Disney havia desenvolvido outro software antes, como um para dar dimensão aos objetos (caldeirões, etc) em "O Caldeirão Mágico"; o Renderman criado pela Pixar, comprado por diversas produtoras de efeitos; e ainda outras técnicas como o sistema APT que também teve estréia em "O Caldeirão Mágico". O APT era um processo químico e ótico usado pra transferir os desenhos do papel pro acetato. Até então, o xerox era o processo mais usado. Mas a grande vantagem do APT sobre o Xerox é que com o APT era possível pra ter as linhas coloridas. Com o xerox eram sempre linhas pretas
Os primeiros testes do CAPS foram com "A Pequena Sereia" e o primeiro filme totalmente no novo sistema (não precisando mais do departamento de pintura manual) foi "Bernardo e Bianca na Terra dos Cangurus" (1990).
Por hoje chega. A coluna "Pergunte ao Animagic" retorna na segunda de Carnaval.