Pergunte ao Animagic - nº 7 (o fim das continuações Disney)
Por Celbi Pegoraro
Com a chegada de John Lasseter na Disney teremos novas continuações?
Muitos fãs ainda não acreditam mas pelo tudo indica a produção de continuações dos clássicos Disney acabou. Sim, morreu! Isso foi confirmado também numa matéria de Joe Strike para o site AWN. Gostaria de reproduzir alguns trechos do que está por trás disso tudo, além de alguns comentários.
A primeira continuação Disney, muitos devem se lembrar, foi "Bernardo e Bianca na Terra dos Cangurus" (1990). O filme foi produzido com orçamento generoso sob o mesmo selo que produziu o filme original de 1977. A idéia de produzir esta continuação era fácil de entender. Michael Eisner, então presidente da Disney, queria que um novo filme com personagens conhecidos fosse lançado para ver se o retorno era maior. O filme não foi um grande sucesso, porém plantou uma semente do que viria anos depois com o sucesso estrondoso de filmes como "A Pequena Sereia", "A Bela e a Fera" e "Aladdin". A Disney estava disposta a lucrar mais com esses sucessos.
Foi assim que em 1994 foi lançado com grande estardalhaço o filme "O Retorno de Jafar", através do novo selo "Disney Video Premiere". A novidade de ser um filme lançado especialmente para o mercado de home-video era tão surpreendente que ganhou manchetes até no Brasil. O Jornal do SBT naquele ano até exibiu matéria comentando o lançamento. Desde então, as continuações se tornaram em fenômenos de vendas catapultadas pelo sucesso dos filmes originais nos cinemas. A mina de ouro continou a ser explorada quando o estúdio resolveu produzir continuações de diversos outros filmes. Se formos contar até os dias de hoje, veremos que a maioria dos clássicos ganhou uma nova produção (Pocahontas, Mulan, Peter Pan, A Pequena Sereia, A Bela e a Fera, Bambi, Lilo & Stitch, Irmão Urso, O Rei Leão, entre outros). Este ano. teremos "Cinderella 3", muito em breve um possível "A Pequena Sereia 3" e fim. Uma era de filmes baratos está encerrada.
De acordo com a matéria do AWN, a chefe do DisneyToon Studios, Sharon Morril, não vê surpresa nessa decisão. Para ela, desde que assumiu o cargo que a divisão não produziria terceiras ou quartas continuações dos filmes. Ainda assim, acredita que tiveram um bom período de filmes, segundo ela inovativos, do contrário as produções não venderiam. A verdade é que ainda que esses filmes pudessem continuar por mais algum tempo, é sabido que John Lasseter (oriundo da Pixar) sempre foi contra a produção das continuações - apelidada pelos animadores na indústria de "cheapquels" (animações baratas). Até pouco tempo, "Aristogatas 2" e outros projetos estavam em desenvolvimento. O diretor de "Cinderella 3", Frank Nissen, comentou que uma das políticas do estúdio era "vamos fazer tantos quanto for possível - as vezes teremos um vencedor, outras não", mas acrescentou que concorda com o princípio de Lasseter de que a primeira coisa a fazer é encontrar uma boa história e uma razão para fazer um filme - uma paixão por contar uma história não importando quem sejam os personagens.
A chefe do estúdio retrucou dizendo que a chegada de Lasseter não foi fundamental para o cancelamento dos "cheapquels". Jim Kammerud, diretor de vários filmes, comentou que as continuações nos últimos tempos se tornaram dispendiosas e que o mercado de DVDs começou a recusá-los. Sem contar os problemas enfrentados pela DreamWorks e Pixar no ano passado quando as vendas de DVDs de seus filmes foram abaixo do projetado e o lucro abaixo do esperado. Um dos problemas seria a concorrência que os DVDs enfrentam com video-games, celulares e a TV a cabo.
Os "cheapqules" foram ganhando qualidade técnica com o passar dos anos. Rumores dão conta que "O Retorno de Jafar" teria custado apenas US$ 3,5 milhões (faturando centenas de milhões em seu lançamento), enquanto os mais recentes custam acima dos US$ 10 milhões com qualidade mais primorosa, ainda assim custando uma fração dos filmes produzidos pela Walt Disney Feature Animation.
Um dos grandes obstáculos na produção das continuações foi a complexidade das subsidiárias, que prejudicou um pouco mais parte dos filmes. Explicando melhor: algumas das continuações são produzidas por uma subsidiária específica: a Disney TV Animation, enquanto outros são desenvolvidos pela DisneyToon Studios (que teve origem ideológica no selo Disney Movietoons - que produzia filmes com qualidade superior aos "cheapquels" mas com orçamentos menores que os clássicos. Ex: "Duck Tales e o Tesouro da Lâmpada Perdida" e "Pateta: O Filme"). Agora explicando a diferença. O sucesso de "Lilo & Stitch" em 2002 levou a Disney TV Animation a produzir "Stich: O Filme", produzido para servir de introdução para a série. Entretanto, dois anos depois a DisneyToons lançou "Lilo & Stitch 2: Stitch Has a Glitch" com uma história que acontece entre o filme original e o primeiro filme da Disney TV. As duas produtoras usavam os personagens para fins diferentes. A saga termina com "Leroy & Stitch", que foi produzido pela divisão de TV. Isso ocorreu também com "Tarzan e Jane" e "Tarzan 2".
As duas divisões trabalham juntas, mas devem seguir caminhos separados, segundo Sharon Morril. "Dividimos muitas fontes, espaço, tecnologia, operações, por um longo período, e nunca existiu rivalidade. Éramos separados criativamente e na produção, mas sempre unidos". Segundo a executiva, os "cheapquels" serão substituídos por filmes movidos por linhas de negócio (brand) - idéia em planejamento há dois anos. O primeiro desses filmes-franquia será o da Sininho, personagem do filme "Peter Pan", que ganhará voz e mais importância. Será produzido em CGI no Prana Studios na India. O estúdio já trabalha em "Unstable Fables", uma série de filmes da Disney TV, que satirizam contos de fadas - produção de Jim Henson e Weinstein. Como já se espera, os fãs puristas terão um novo alvo para atacar com o fim dos "cheapquels": a nova Sininho computadorizada falante. Sharon Morris diz já estar acostumada com as pressões e críticas.
O último grande "cheapquel" será "Cinderella 3", que segundo os executivos é um grande testamento para os animadores da Austrália, cujo estúdio será fechado. Sharon Morril diz com orgulho que este foi o melhor filme que a equipe já produziu. Sabendo do fechamento, os artistas teriam colocado toda sua força e talento para fazer o melhor filme possível. Com o final da produção, o time de animadores australianos foi diminuindo aos poucos até a conclusão do projeto. A equipe é homenageada com um agradecimento nos créditos: "Special thanks to DisneyToon Studios Australia for their many years of producing beautiful hand-drawn animation." (Agradecimentos especiais ao DisneyToon Studios Australia por seus muitos anos produzindo belas animações feitas à mão).
A coluna fica por aqui. No próximo "Pergunte ao Animagic!" finalmente comentários sobre a revista em quadrinhos Tio Patinhas 500. Até lá!