Quando os musicais Disney invadiram o Oscar
por Celbi Pegoraro (02/08/2007)
No último domingo, dia 29 de julho, o público da Broadway viu a última apresentação de "A Bela e a Fera. O site Jim Hill Media tem fotos. Após treze anos encantando o público com a mesma história da animação Disney de 1991, "A Bela e a Fera" foi um grande marco para a criação e permanência da subsidiária Walt Disney Theatrical Productions, atualmente gerenciada por Thomas Schumacher. É claro que "Be Our Guest" e demais canções continuarão sendo apreciadas nas montagens internacionais do musical, mas é importante ressaltar como o começo da década de 1990 foi marcante nessa área.
A Disney sempre incluiu canções em suas animações, mas sua primeira tentativa mais ousada ocorreu com "Oliver & Company" (Oliver e sua Turma) de 1988. Projeto encampado por Jeffrey Katzenberg, tinha como principais atrativos Bette Midler e Billy Joel dublando e cantando no filme. Mas foi com "A Pequena Sereia" em 1989 que os musicais (num sentido mais teatral) apareceu com tudo. Até então o único projeto musical nesse estilo havia sido desenvolvido na década de 1960 com "Chanticleer", filme que que Walt Disney reprovou em favor de "A Espada era a Lei". Mas enfim, Howard Ashman e Alan Menken conseguiram um grande feito com "A Pequena Sereia", emplacaram o hit ganhador do Oscar, "Under the Sea", e fez com que a Disney utilizasse a fórmula por diversos filmes que viriam a seguir.
A partir de 1990, a Disney passou a abocanhar todos os prêmios nas categorias musicais do Oscar. Não só Menken e Ashman ganharam Oscar por canção e trilha por "A Pequena Sereia", "A Bela e a Fera" e "Aladdin", como abriu espaço para que canções e trilhas de "O Rei Leão" (Elton John e Tim Rice) e "Pocahontas" (Alan Menken e Stephen Schwartz) também ganhassem as estatuetas. Óbvio que isso não deixou muita gente feliz, o que fez a Academia criar a famigerada divisão na categoria musical, agora dividindo trilha em sub-categorias "dramática" e "musical ou comédia". Ironicamente foi só criarem isso e a Disney não ganhou mais nada. Em tempo: a divisão não existe mais!
Mas antes mesmo de "A Bela e a Fera" ser aprovado para se tornar um espetáculo da Broadway, algumas montagens interessantes foram criadas especialmente para ilustrar as canções indicadas ao Oscar. Aproveitando a possibilidade de se assistir isso via YouTube (pelo menos enquanto permanecerem online), irei destacar alguns vídeos e detalhes de alguns desses momentos.
Em 1988, a Academia resolveu criar um famigerado número de abertura para a 61ª festa do Oscar que incluía Branca de Neve (versão Disney), Rob Lowe e Merv Griffin. A abertura musical, de gosto extremamente duvidoso, resultou em críticas negativas gerais e ofendeu os chefões da Disney que não tinham autorizado o uso da personagem. Fora que a Disney não gostou nada do dueto de Branca com Lowe. A Academia precisou se desculpar publicamente pelo musical, e a Disney por algum tempo resolveu até proibir o uso de personagens na festa do Oscar. Curiosamente, na cerimônia do ano seguinte, Billy Cristal aproveitou para tirar sarro da polêmica. Você pode conferir a infame Branca de Neve aqui.
"A Pequena Sereia" está prestes a ganhar sua versão Broadway, mas que tal reviver a encenação da canção "Under the Sea" da festa do Oscar de 1990? Com um cenário colorido simulando o fundo do mar e divertida coreografia de Paula Adbul, "Under the Sea" (de Alan Menken e Howard Ashman) foi a sensação e o vencedor do ano. Infelizmente, não podemos dizer o mesmo da fraca e patética interpretação da canção na voz do ator teatral Geoffrey Holder. Assista aqui.
Em 30 de março de 1992, foi a vez de "A Bela e a Fera" dominar a festa do Oscar com três canções indicadas. Além da encenação divertida das canções, é impossível não se surpreender ao ver no palco os dubladores originais da animação cantando suas partes no palco. Paige O´Hara (Belle) e Richard White (numa interpretação impagável como Gaston) cantam a introdutória "Belle", enquanto o já falecido ator Jerry Orbach interpreta a parte de Lumiere em "Be Our Guest". Confira aqui.
Numa outra parte, a canção vencedora "Beauty and the Beast" é interpretada por Angela Lansbury, Peabo Bryson e Celine Dion - veja aqui. "A Bela e a Fera" também concorreu por trilha musical. Debbie Allen coreografou um medley dos cinco filmes indicados. Veja aqui.
Para a nova geração que só viu personagens digitais na festa do Oscar, é bom saber que personagens animados a mão eram comuns nas cerimônias mais antigas. Mickey, Donald, Pernalonga e Patolino, já participaram entregando estatuetas. E sempre com animação de boa qualidade. Uma prova é o trecho onde Belle e a Fera apresentam o prêmio de Melhor Curta de Animação de 1992. Confira aqui.
E finalmente na festa de 29 de março de 1993, foi a vez de "Aladdin" dominar as categorias musicais novamente. "One Jump Ahead" e "A Friend Like Me" foram interpretadas na festa (veja aqui) pela atriz e cantora Nell Carter, até porque Robin Williams estava brigado com a Disney por conta do uso do personagem Gênio de forma a explorar seu envolvimento no filme. Na época, Robin estava estrelando outro filme chamado "A Revolta dos Brinquedos" (Toys) e para não prejudicar o filme dirigido por seu amigo, pediu a Disney que desse menos destaque ao seu nome em "Aladdin". Só que a Disney utilizou o Gênio (uma caricatura do ator) em banners e outdoors e a animação acabou atropelando todos os demais filmes do fim de 1992.
O grande destaque, porém, foi a participação de Lea Salonga e Brad Kane cantando a canção vencedora, "A Whole New World". Mais uma vez um grande número musical com bela orquestração e coreografia. Veja aqui. O mesmo video um pouco melhor aqui.
Com isso podemos reviver um pouco a grande fase musical Disney dos anos 90 e nos preparar para a chegada da nova versão de "A Pequena Sereia".