Editor do Animagic comenta pesquisa sobre Disney no Brasil
por Celbi Pegoraro
Alguns amigos leitores repararam meu pequeno sumiço ao longo do primeiro semestre. A (boa) justificativa era meu trabalho de conclusão no curso (TCC) de Jornalismo na Universidade Presbisteriana Mackenzie de São Paulo. Foi minha segunda pesquisa acadêmica após a iniciação científica com trabalho sobre cinema de animação e a aceleração das novas mídias. Acompanhe abaixo um pouco sobre a nova pesquisa.
A idéia de escrever um livro sobre a relação Disney e Brasil é antiga. Mesmo possuindo muito material e sabendo muito sobre Disney, infelizmente o tempo foi limitado para um livro como eu gostaria. O projeto dataria a história desde os anos 20 até a atualidade, mostrando como a relação também foi positiva não só culturalmente mas pelo lado dos negócios (Ebal, Abril, e outras empresas), mas fui forçado, até pelo tamanho e prazo do projeto, a me focar primeiro nos anos 1940. O livro reportagem fala sobre a viagem de Walt Disney ao Brasil, a produção dos filmes sobre a América Latina, o lançamento de "Fantasia", e as consequências de tudo isso para Disney e para o Brasil. Foi um ano de pesquisa para escrever o livro com 156 páginas e um relatório monográfico com mais 60 páginas.
"Disney no Brasil - Como Tudo Começou" (título do livro) teve capa criada por Fernando Ventura, em homenagem ao filme "Você já foi a Bahia?". A contra-capa do livro inclui uma foto de Walt Disney, sua esposa Lillian e delegação desembarcando no aeroporto Santos Dumont no Rio de Janeiro em agosto de 1941.
A defesa do trabalho para a banca avaliadora também incluiu uma apresentação multimídia com fotos da viagem, artes conceituais e trechos de vídeos de inúmeros filmes de Disney. Um dos vídeos apresentados está no YouTube (confira aqui!) com o brasileiro José Oliveira, a voz de Zé Carioca, numa rara apresentação no "Clube do Mickey" nos anos 50.
A pesquisa para o livro foi orientada pelo professor doutor (e jornalista) Fernando Salinas, que apoiou a idéia desde o início e não me desanimou em nenhum momento. A defesa pública do TCC ocorreu dia 11 de junho de 2007 com a participação dos jornalistas Sérgio Rizzo (Folha de S. Paulo) e Marcelo Alencar (Ed. Abril). O Marcelo, aliás, é tradutor das histórias em quadrinhos de Carl Barks que a Abril está relançando. A banca fez comentários, críticas, sugestões, e ao fim o trabalho ganhou média final 10.
A parte mais legal do projeto foi descobrir material para contar a história. Desde fotos antigas da época mostrando a viagem de Walt Disney pelo Brasil, que foram restauradas (na medida do possível) para o trabalho, até as críticas escritas para o clássico animado "Fantasia" por autores como Monteiro Lobato, Mário de Andrade e Vinicius de Morais. Outro ponto foi o contato positivo com professores, pesquisadores e acadêmicos norte-americanos como John Culhane, J.B. Kaufman, Michael Barrier e John Canemaker (autor de diversos livros sobre animação Disney e vencedor do Oscar). Todos ajudaram com informações que enriqueceram mais ainda o livro.
Atualmente estou revisando o que já foi pesquisado, completando alguns dados para ampliar o projeto. O livro se divide nos seguintes capítulos:
- Prefácio do historiador norte-americano John Culhane
- Homenagem dos intelectuais brasileiros a Walt Disney em 1934
- 1941 - Disney enfrenta a Guerra e a Greve
- A viagem para o Brasil
- "Fantasia" e a crítica brasileira na época (Monteiro Lobato, Mário de Andrade, Vinicius de Morais, Cruz Cordeiro e Guilherme de Almeida)
- Saludos Amigos - Jornada pela América Latina
- Os filmes de propaganda de guerra
- "Você já foi a Bahia?" e os brasileiros envolvidos
- Disney e os Empreendedores Brasileiros (Braguinha, Herbert Richers, Cesar e Victor Civita, Elcan Diesendruck).
- Epílogo (Disney até a atualidade)
Com as ampliações e revisões em andamento, espero que num futuro próximo todos tenham acesso ao livro. Pelo menos trabalho pensando nisso. Concluo esta coluna com um trecho do livro onde narro a curiosa viagem de uma delegação de brasileiros para visitar os estúdios Disney em 1934. Eles estavam lá para homenagear Walt Disney com uma escultura em bronze do Mickey montado sobre um jabuti. Dentre os membros do grupo estava o Dr. Silva Araújo, conhecido como farmacêutico no Rio, foi responsável por uma frase bem humorada ao cumprimentar Walt Disney: "Sr. Disney, o senhor é meu inimigo!", murmurou. "Desde que os desenhos de Mickey surgiram no Brasil o meu negócio diminuiu... Pouca gente está sofrendo do fígado..." Disney riu com gosto da brincadeira.