Descobrindo os filmes perdidos: My Peoples e Wild Life
por Celbi Pegoraro
2008 é um bom ano para os amantes de história Disney, especialmente na área editorial. O grande lançamento do momento é o livro Disney Lost and Found: Exploring the Hidden Artwork from Never-Produced Animation do renomado autor Charles Solomon. O autor já havia brindado os fãs com o livro The Disney That Never Was (1995) com muito material de arte de projetos descartados pelo estúdio. Ainda não pus as mãos no livro mas tenho uma prévia para dividir com os leitores do Animagic.
A primeira parte do livro, chamada Visions Lost and Found, traz conceitos e arte de clássicos disneyanos como "A Bela Adormecida" (uma versão completamente diferente feita por Bill Peet), "Bernardo e Bianca" (e suas versões diferentes inspiradas no livro) e "Branca de Neve e os Sete Anões".
O restante do livro trata basicamente de projetos mais recentes, especificamente dois filmes bastante curiosos: "Wild Life" e "My Peoples" (veja imagens maiores aqui). Responda rápido: Qual foi o primeiro longa-metragem animado por computador da Disney? "Dinossauro"? "Chicken Little?" Bom, o primeiro na verdade é um filme híbrido (dinos digitais com cenários reais), e o segundo tecnicamente é a primeira animação feita em CGI. Mas muitos anos antes de "Chicken Little", a Disney já tentava produzir outro filme.
Com o sucesso da técnica usada em "Dinossauro" (lançado em 2000), a Disney aprovou a produção do primeiro filme animado inteiramente por computador. O filme se chamava "Wild Life" e originalmente começou como uma versão da clássica história Pigmalião de modo a mostrar o outro lado do mundo da moda e das celebridades. Em alguns meses o projeto se modificou para algo muito mais denso, uma história mais cínica ambientada em um clube da Big City, uma Nova York estilizada dos anos 1970 - com ar daquela era a lá David Bowie. Durante esta fase, artistas como Greg Killman, Floyd Norman e Greg Killman criaram o conceito que seria algo totalmente inédito em animação.
Infelizmente a história e os designs criados para "Wild Life" extrapolaram o bom senso disneyano. Segundo contam fontes presentes durante as reuniões, o próprio Roy E. Disney, ainda supervisionando o estúdio, teria vetado quase tudo no filme. O mundo pesado das celebridades e ainda a alusão a um possível personagem gay fizeram com que o filme fosse rapidamente cancelado. Mas dezenas de milhões de dólares foram gastos e o que foi produzido trancado nos arquivos. Pelo menos até agora com o livro de Solomon.
Muito mais tradicional foi o projeto "My Peoples", que seria o quarto filme produzido em maior parte no estúdio Disney da Flórida (os outros foram "Mulan", "Lilo & Stitch" e "Irmão Urso"). O filme começou a ser desenvolvido em 1998 e passou por várias revisões (teve títulos como "Angel and her no good sister" e "Elgin´s People"). No meio de toda a crise com as fracas bilheterias de "Irmão Urso" e "Nem que a vaca Tussa", muitos perceberam que "My Peoples" estava sendo usado para enrolar os artistas locais até que fosse decidido o fatídico destino do estúdio.
Segundo a descrição do autor, "My Peoples" surgiu do interesse do co-diretor Barry Cook (também co-diretor de "Mulan") em arte folclórica norte-americana. O filme seria um conto entre um casal apaixonado em Appalachia do fim dos anos 1940. Segundo a premissa, o Velho McGee jurou afastar sua filha Rose do jovem Elgin Harper devido a uma velha disputa e uma supertição de que "coisas ruins" acontecem quando os Harpers e os McGees estão juntos. Os "peoples" (do título) são personagens do folclore feitos por Elgin usando objetos encontrados por aí. Só que eles ganham vida e ajudam a juntar o casal.
A música estava sendo criada por Ricky Skaggs e o elenco de vozes incluía talentos como Dolly Parton (personagem Angel), Lily Tomlin, James Carville, Travis Tritt, entre outros.
Tecnicamente a maior curiosidade é a forma híbrida de produção, bastante semelhante a do segmento do Soldadinho de Chumbo em "Fantasia 2000". Os personagens Peoples seriam animados em CGI (computadorizados) enquanto os demais personagens seriam animados tradicionalmente a lápis. Parte do filme foi animada e alguns milhões de dólares também foram gastos nesta produção que foi cancelada quando a Disney decidiu fechar o estúdio da Flórida e demitir os artistas. A boa notícia é que, segundo o autor, alguns artistas ainda têm esperança de que "My Peoples" seja produzido.
Fica a dica do livro:
Disney Lost and Found: Exploring the Hidden Artwork from Never-Produced Animation - autor: Charles Solomon (imagens)