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"Wall-E" (2008)

por Celbi Pegoraro

"Wall-E" é um desses fenômenos difíceis de se analisar. Até mesmo do ponto de vista da crítica. Quando "Shrek" foi lançado a crítica em efeito de manada correu elogiar uma produção que, passados alguns anos, já perdeu seu brilho. Com "Wall-E" é um pouco parecido (com a diferença que o filme é melhor). A crítica em peso elogia a nova produção da Pixar dando cacife as pretensões da Disney a promover a animação ao Oscar de Melhor Filme (sim, a categoria dos filmes live-action). Dependendo da situação pode até concorrer já que não há grandes novidades nos cinemas.

Meu papel de crítico no Animagic vai ponderar um pouco alguns aspectos negativos da produção. Antes de mais nada, você pergunta, "Wall-E é um filmão?". Eu não me incluo no grupo que chama "Wall-E" de "clássico". A resposta mais justa seria que é um filme muito bom com belos aspectos clássicos. No que parece um clichê crítico, mas ouso repetir, a nova animação da Pixar parece mesmo um cruzamento bem moldado entre Charles Chaplin e Stanley Kubrick. Talvez por isso, creio que o próprio andamento mais lento da história possa entendiar parte das crianças acostumadas com filmes mais acelerados. A trilha do excelente compositor Thomas Newman é ótima, mas não ajuda na empolgação. 

Alguns vão perceber um filme lento e arrastado que vai ganhando velocidade mas perdendo um pouco de brilho com o andar da história. Certos aspectos da dinâmica de vida dos humanos na espaçonave Axiom nunca são bem explicados. De onde vem o alimento deles? Por outro lado talvez seja escolha deliberada deixar os humanos obesos em último grau de atenção. O fato do filme usar cenas não-animadas em alguns trechos também é estranho. O ator Fred Willard (como presidente) é ótimo mas destoa um pouco do resto do elenco humano animado.

Mas tudo isso não faz de "Wall-E" um filme que mereça ser ignorado. Todo fã de animação deveria assistí-lo por razões mais nobres. Uma delas é o primeiro ato. Os quase 25 minutos iniciais do filme são uma bela demonstração de atuação em animação em pura pantomima, com uso quase minimalista de trilha musical. Só temos ruídos e movimento. Isso sim é um ponto alto da produção visto que todas as animações mais recentes recorrem mais ao diálogo para trabalhar a animação.

A temática do filme envolvendo as montanhas de lixo em nosso planeta é muito boa. A automação toda e o fato dos humanos serem obesos sedentários alienados por um sem número de propagandas também ajudam a fazer de "Wall-E" um filme de crítica social (mesmo que os produtores insistam em dizer que não tinham a intenção). Por isso mesmo é o filme mais sério e adulto da Pixar. Na parte técnica, o fato dos cenários da nave serem bem detalhados e explorados chama atenção (até se compararmos com a concorrência).

Sendo um filme de ficção-científica nada mais clichê do que usar referências de outros filmes do gênero. Felizmente, apesar delas existirem, não são um tapa na cara como as referências pop de outras produções. A robô Eva é nitidamente um produto da Mac. Wall-E é uma mistura curiosa dos protagonistas de "Um Robô em Curto Circuito" e "E.T. O Extraterrestre". Aliás, o filme soa nitidamente spielberguiano. Nunca perdemos a noção de como será o desfecho da história. A própria "voz" de Wall-E remete ao R2-D2 de "Star Wars".

Referências de sci-fi podemos listar a presença da atriz Sigourney Weaver (de "Aliens") dublando o computador de bordo da espaçonave Axiom. O piloto automático Auto é uma referência direta ao HAL 9000 de "2001 - Uma Odisséia no Espaço" de Stanley Kubrick. Deste mesmo filme ouvimos o tema “Assim Falou Zaratustra”.

Outra característica interessante é o resgate de temas clássicos, desde "La Vie en Rose” (cantado por Louis Armstrong) e diversas cenas da sequência musical “Put On Your Sunday Clothes” do filme "Alô, Dolly" (1969), que Wall-E assiste repetidas vezes numa velha fita VHS. O próprio musical é uma escolha bem sacada já que mostra a interação de pessoas felizes - algo inversamente vivido pelos humanos de quase sete séculos depois mostrados no filme.

"Wall-E" é uma ótimo exemplo de que animação pode ser usada para filmes de diversos gêneros, temáticas e críticas sociais. Pode não ser (e não é) mais divertido que produções anteriores da Pixar, mas é uma obra que merece ser conferida - de preferência nos cinemas.

WALL-E
Titulo Original: Wall-E
Gênero: Animação
Duração: 97 minutos
Origem: EUA
Estréia - EUA: 27 de junho de 2008
Estréia - Brasil: 27 de junho de 2008
Estúdio: Pixar Animation Studios
Direção: Andrew Stanton
Roteiro: Andrew Stanton e Jim Reardon baseado em argumento de Stanton e Pete Docter
Produção: Jim Morris, Lindsey K. Collins
Música: Thomas Newman (canção original de Peter Gabriel)

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