Mogli - O Menino Lobo (The Jungle Book - 1967)
Em 1964, Disney comprou os direitos sobre todas as 13 histórias de "The Jugle Book" (O Livro da Selva), mas decidiu se concentrar apenas nas história de Mogli. Bill Peet foi escalado para desenvolver o argumento, e Terry Gilkyson a música. Walt Disney queria algo que fosse natural e fantástico - ele queria seguir algo sugerido pela luta entre os cervos em "Bambi". A idéia de Walt era seguir as história de Kipling, senão fazê-las mais sérias.
Música
Para ajudar Gilkyson na área musical, Woolie Rheitherman enviou ao compositor cenas de "Bambi" que tinham poderosos visuais semelhantes aos de "Fantasia" de 1940. Instruído a compor canções tendo Kipling (o autor) em mente, GIlkyson criou a canção "Brother All", que começaria o filme mostrando um livro tendo na capa Mogli e um lobo, e que era inspirado no tema do livro "whether we swim or crawl, we are one blood". Depois, a alcatéia (o grupo de lobos) cantaria "The Song of the Seeonee", música bem ao estilo "quarteto de barbeiros" americano, que seria pontuado pelos uivos.
Quando Bill Peet sugeriu "Bare Necessities" (Somente o Necessário) como tema para o urso Baloo, Gilkyson compôs uma canção ao estilo jazz bem festivo. Os animadores, entretanto, queriam algo com um ritmo um pouco diferente para alcançar os movimentos criados com o design do urso. Desse modo, o compositor diminuiu o ritmo e revisou as letras. Para os malvados macacos que raptam Mogli, foi criada uma composição bem influenciada por Gilbert e Sullivan chamada "Monkey See, Monkey Do". Outra canção era "Hate Song", onde Shere-Kan e Buldeo citavam seus planos para o inimigo.
Baguera e Baloo ainda cantariam "In a Day´s Work" lembrando Mogli sobre os pássaros caçando minhocas. No fim do filme, logo após Mogli reencontrar sua mãe, ele cantaria para Baguera a sentimental "I Knew I Belonged to Her", lembrando o sonho de um lugar e uma faze que havia um dia visto antes.
A reviravolta no filme forçou com que várias composições de Gilkyson fossem descartadas, com exceção da versão original jazz-festiva de "Somente o necessário", cuja cena já estava em animação-teste. Walt Disney convidou os compositores Richard e Robert Sherman para criarem as novas canções. Ele perguntou aos irmãos se eles haviam lido o livro. Os Shermans disseram que não, e Walt informou que o filme tinha apenas uma boa canção e que necessitava de novas composições. Os Shermans criaram uma marcha para o Coronel Hathi, um novo número para os abutres "That´s what friends are for", uma composição alegre para o Rei Louie (voz de Louis Prima) "I wan´na be like you", e uma composição lenta para a garotinha da vila, "My Own home". Após algum tempo, os compositores reviveram a misteriosa canção "Land of Sand" (que foi descartada de uma sequência também cortada chamada Arond the World em "Mary Poppins"), e a reescreveram para produzir "Trust in Me", a canção da cobra hipnótica Kaa.
Criando os personagens
O principal desafio era fazer com que Mogli parecesse um personagem não só saído da mente de Kipling, como de Disney também. De acordo com Vance Gerry, Bill Peet queria seguir um caminho totalmente diferente. Ele queria fazer os personagens com base nos atores ao invés de utilizar apenas suas vozes. Complicado? Bem, ele queria recorrer as vozes de rádio. E isso foi difícil de ser concretizado. De início, Phil Harris (voz de Baloo) estava relutante, mas após o sucesso do filme acabou adorando o trabalho.
Em meados dos anos 60, Bill Peet estava tendo sucesso como autor de livros infantis, mas também estava descontente com algumas regras tiranas que as vezes Walt Disney ordenava durante a produção do filme. Após uma briga sobre a gravação da voz de Baguera, Peet se demitiu do estúdio. Walt Disney revisou todo o filme e a trilha sonora, e percebeu o erro. A versão de Peet era mesmo muito ligada ao original de Kipling, onde existe uma atmosfera sombria, misteriosa, melancólica, com Mogli sofrendo todo tipo de coisa. Walt teria dito "Isso é um desastre total! Eu não ligo o quanto artisticamente correto é a história". relembra Richard Sherman.
Walt Disney retornou o roteiro para o Departamento de Histórias do estúdio para que o filme fosse transfomrado de uma "fantasia na selva" para uma "farsa na selva". O grande e sério urso marrom de Kipling setornou um tutor para Mogli, não sendo mais nem sério, nem velho ou marrom. Os idosos e e bem respeitados lordes da selva - o elefante Hathi e a cobra Kaa seriam agora "cômicos" no filme. O elefante se tornou um atrapalhado coronel britânico, e a cobra - um vilão cômico e patético. Foram cortados outros dois personagens do filme. Buldeo - o caçador, e Ishtar - o abutre que prevenia outros animais da chegada do caçador ou do "filhote de homem". Ishtar foi substituído por quatro abutres padronizados no visual Beatles, e que possuem papéis similares aos dos corvos do filme "Dumbo" - tentar encorajar Mogli. A mãe de Mogli deu lugar a uma garotinha da vila que conquista o coração dele, o levando de volta para a vila dos homens.
O rinoceronte que sumiu
No curso da produção outro personagem também viu sua participação sendo cortada. Rocky, o rinoceronte, seria protagonista de uma sequência divertida planejada para logo depois da cena em que o templo do rei Louie é destruído. Seria uma cena engraçada de perseguição de Rocky atrás de Baloo e Mogli. A sequência estava em estágio avançado de produção antes de Walt descartá-la. Storyboards foram criados e a Disney já estava contratando o ator que faria a voz de Rocky, o cantor e ator cômico Frankie Fontaine. Imagens desses storyboards podem ser vistos no livro "Paper Dreams" do John Canemaker. Segundo Floyd Norman, lenda da animação, Walt não viu sentido em usar o personagem no filme. Outra teoria é que Walt decidiu cortar a cena porque ela vinha logo após a destruição do templo do rei Louie, e não fazia sentido cinematograficamente mostrar duas cenas de perseguição e alta energia coladas uma na outra. Então, mesmo com Frankie Fontaine tendo gravado sua voz para Rocky, a Disney cortou toda a sequência e o personagem do filme. E adivinhe quem animaria o rinoceronte? O animador que faria o trabalho era nada mais nada menos que o grande Milt Kahl. Foi apenas após o corte de Rocky que Milt passou a supervisionar e a animar o tigre Shere Kan, que para muitos é o trabalho mais genial do animador.
Curiosidades
Quando Walt Disney faleceu em 15 de dezembro de 1966, "The Jungle Book" (Mogli, O Menino Lobo) ainda estava em produção. O filme foi lançado apenas 10 meses depois com críticas positivas e e bilheteria quebrando todos os recordes. O sucesso calou as conversas que davam como certas o fechamento dos estúdios após a morte de Walt. "Mogli" fez tanto sucesso, que o estúdio chegou a anunciar algo que o próprio Walt Disney nunca teria aprovado para nenhum filme do estúdio: uma continuação!
Terry Gilkyson, Floyd Huddleston, os irmãos Sherman e outros, chegaram a criar novas composições. Phil Harris e Louis Prima também gravaram suas vozes nas novas canções, que foram condensadas num disco que foi lançado com o título "More Jungle Book", para ver se o público realmente queria ver um segundo filme com os personagens. o disco acabou sendo um fracasso de vendas, extinguindo qualquer plano para uma continuação de "Mogli". Mais importante ainda, com menos de um ano da morte de Walt Disney, o estúdio já estava tentando se repetir ao contrário de inovar.
Ao contrário do folclore que diz que "Mogli" foi o último filme supervisionado por Walt Disney, na verdade este título cabe ao lice-action musical "The Happiest Millionaire" de 1967, considerado um dos musicais mais bem produzidos pelo estúdio desde "Mary Poppins". "Mogli" foi o último filme animado em produção supervisionado por Walt Disney, entretanto, Walt chegou a dar comentários e idéias para os curtas do ursinho Pooh e também para "As Aristogatas" de 1970.
Em "Mogli", o personagem cuja animação é mais destacada é o vilão (tigre) Shere-Kan. Fruto do trabalho de um dos mais famosos artistas do grupo "nine old men" do estúdio, Milt Kahl, que teve a oportunidade de trabalhar do modo em que mais gostava: pôde animar o personagem em todas as cenas, já que julgava que outros animadores poderiam arruinar o seu trabalho. A animação complexa e difícil foi pesquisada a partir da anatomia de um tigre, levando às telas todos os movimentos fluidos e o peso do animal. Milt Kahl só teve a oportunidade de trabalhar de forma similar em apenas outro filme, "Bernardo e Bianca" (1977) cuja sua Medusa pode ser vista em quase na totalidade das cenas, já que Kahl se aposendo de modo abrupto antes do término da produção.
Ficha técnica
Lançamento original nos cinemas (EUA): 18 de outubro de 1967
Director: Wolfgang Reitherman
Produtor: Walt Disney
Roteiro: Ralph Wright, Ken Anderson, Larry Clemmnos, Vance Gerry
Makeup: Perc Westmore
Editor: Tom Acosta, Norman Carlisle
Animação: Oliver Johnston, Frank Thomas, Milt Kahl, John Lounsbery
Canções e letras: Richard M. Sherman, Robert B. Sherman, Terry Gilkyson
Trilha Musical: George Bruns
Elenco
Sebastian Cabot: Baguera, a pantera
Bem Wright: Lobos
Lord Tim Hudson: Abutre
Clint Howard: Elefantes
Louis Prima: Rei Louie dos macacos
J. Pat O’Malley: Coronel Hathi dos elefantes
Sterling Holloway: Kaa a cobra
John Abbott: Lobo
George Sanders: Shere Khan, o tigre
Chad Stuart Lor: abutre
Phil Harris: Baloo, o urso
Darleen Carr: garota
Bruce Reitherman: Mogli
Verna Felton: Elefante
Duração: 78 minutos
Bilheteria
US$205.843.000 (Mundial)
US$64.000.000 (internacional - excetuando os EUA)
uS$141.843.000 (EUA)
Bilheteria no lançamento original: US$13.26 mi
Bilheteria no relançamento de 1990: US$44.57mi
Locações nos EUA: US$60,9 mi