O Ratinho Detetive (The Great Mouse Detective - 1986) - Parte I
O desenvolvimento deste filme animado começou durante a problemática produção de "O Caldeirão Mágico". O projeto estava tomando um rumo tão diferente que muitos artistas resolveram abandoná-lo para trabalhar num filme com possibilidades maiores de sucesso, tentando retomar o padrão Disney de qualidade no que diz respeito a "contar uma história".
A idéia de animar "Basil of Baker Street" surgiu originalmente quando Ron Clements descobriu sua veia artística produzindo um curta animado de 10 minutos baseado em Sherlock Holmes. Na época, Clements era um adolescente e filmou seu desenho usando uma câmera Super 8. Em 1980, Clements e seu parceiro John Musker começaram a criar storyboards nos intervalos de outros projetos.
"Basil of Baker Street" (1958) foi o primeiro de uma série de livros escrita por Eve Titus. Os livros infantis contavam a história de um famoso ratinho detetive que resolvia vários casos com a ajuda de seu assistente Dr. David Q. Dawson. Uma curiosidade é que o vilão Ratagão só aparece no segundo livro sa série, como líder do sub-mundo dos ratos em Londres.
É de se levar em conta que qualquer história de Shrelock Holmes requer muitos detalhes e um roteiro muito bom, mas os artistas de Disney começaram o projeto literalmente do zero. O roteiro foi construído tendo em vista os visuais que seriam empregados: uma luta no Big Ben, alguma ação no esgoto, os protagonistas indo disfarçados em um bar próximo ao porto.
Mas Ron Clements originalmente seguiu uma direção diferente do que na verdade se vê na versão final do filme. Sua idéia era criar um filme no estilo dos Looney Tunes da Warner Bros. - repleto de gags (piadas). Seria algo similar a "A Nova Onda do Imperador". Cerca de doze storyboards estavam completos, e mesmo assim a história ainda não havia, de fato, começado. O supervisor artístico Pete Young observou que aquilo não ia dar em lugar algum, desse modo chamou o então presidente da Disney e genro de Walt, Ron Miller. Miller concordou com a opinião de Pete Young, e o filme entrou em novo desenvolvimento.
A primeira idéia tinha uma jovem moça (uma ratinha) que conquistava o amor de Dawson, mas Miller aparentemente sabia o que poderia funcionar, e então pediu aos artistas que criassem uma personagem ainda mais jovem - uma garotinha. Dessa forma, os protagonistas teriam mais preocupação e emoção para resolver o caso.
Em sua missão de resgate, originalmente os heróis usariam como transporte um carrinho puxado por um bode, mas finalmente os diretores escolheram Toby, o cão de Sherlock Holmes, que foi treinado por Basil mas acaba respondendo mais facilmente as ordens de Olívia. Outro personagem cortado foi um pombo que viveria voando nas redondezas do Palácio de Buckingham, que acabaria ajudando Basil na missão. Mas os diretores acharam melhor que Basil resolvesse a maioria das situações sozinho.
A produção foi iniciada no fim de 1984. Os artistas criaram Basil inicialmente baseado em Bing Crosby, mas finalmente acabou sendo modelado em Leslie Howard. Ratagão foi desenhado originalmente como uma caricatura do presidente da Disney, Ron Miller. Mas quando Vincent Price (famoso ator de filmes de horror) aceitou fazer a voz do vilão, o personagem foi modificado ficando mais parecido com o papel que Price interpretou no filme "Champagne for Caesar".
Para os que se lembram, durante o animado existe uma cena onde vemos a silhueta de Sherlock Holmes. Os produtores queriam usar uma gravação de Basil Rathbone, mas ele queria muito dinheiro. Relutantes, eles chamaram um ator e começaram a gravar no estilo de Rathbone. Mas no último minuto, Rathbone e o estúdio chegaram a um acordo e a voz dele foi usada.
Cortes e Modificações mais importantes
O desenvolvimento do filme já estava em andamento quando Jeffrey Katzenberg assumiu a presidência dos estúdios (junto com Eisner em setembro de 1984), mas mesmo assim sua presença é sentida no resultado final. Segundo o argumentista Vance Gerry, o final era muito mais longo, mas Katzenberg não queria algo longo, antiqüado. Ele queria cenas rápidas: uma cena corta para outra, que corta para mais uma, e por aí vai.
A principal mudança instituída por Katzenberg foi o número musical de uma ratinha no bar. Uma canção composta por Henry Mancini foi gravada e animada, mas Katzenberg a teria odiado tanto que acabou pedindo a Melissa Manchester que gravasse uma nova canção. Ela criou "Let Me Be Good to You" (no Brasil cantada pela atriz Lucinha Lins), o que fez com que toda a cena fosse parcialmente reanimada.
Henry Mancini criava composições com um senso clássico, mais antigo. Katzenberg provavelmente achou a canção muito suave. Sua idéia talvez fosse revigorar o estilo musical Disney, trocando veteranos compositores como Buddy Baker, os irmãos Sherman, Elmer Bernstein e Henry Mancini por músicas mais contemporâneas - do agitado aos musicais da Broadway - como aconteceria nos anos seguintes. Será que um dia veremos essa seqüência musicada por Henry Mancini numa futura versão em DVD? Ninguém sabe.
Além de criar a trilha, Henry Mancini foi o responsável pelas outras duas canções cantadas pelo vilão Professor Ratagão: "The World's Greatest Criminal Mind" e "Goodbye, So Soon". Para quem não conhece Melissa Manchester, ela é uma compositora e cantora que já ganhou vários prêmios Grammy, atuou em musicais de Andrew Lloyd Webber, além de filmes e séries de TV. No Brasil, ela pôde ser vista no seriado da Disney, "Blossom", fazendo o papel da mãe de Blossom. Além disso, ela é a responsável pela trilha musical de "A Dama e o Vagabundo 2".
Já Henry Mancini foi um compositor famoso por temas como da "Pantera Cor-de-Rosa" e "Peter Gunn". "O Ratinho Detetive" foi sua primeira trilha para um longa-metragem de animação. Foi um dos compositores mais requisitados entre 1958 e 1964, criando muitos temas de seriados de TV e trilhas de filme. Mancini também foi o arranjador dos especiais "The Glenn Miller Story" em 1954 e "The Benny Goodman Story" em 1956. Um de seus trabalhos mais marcantes foi no filme noir de Orson Welles, "Touch of Evil" de 1958. Henry Mancini criou a trilha de outro filme animado após "O Ratinho Detetive", "Tom & Jerry - O Filme" em 1993. O compositor faleceu em 1994.
A última coisa a ser modificada foi o título do filme. E por incrível que pareça isso teve a ver com um filme de Steven Spielberg. Após o fracasso do filme "O Enigma da Pirâmide" (Young Sherlock Holmes), o marketing da Disney percebeu que "Basil of Baker Street" soava muito britânico para as crianças americanas. Os artistas do departamento de animação foram convidados a sugerirem nomes, e o escolhido foi "The Great Mouse Detective". Vale ressaltar que vários animadores após trabalhar anos no projeto ficaram irados ao saber que o filme teria um nome tão "bobo".
Em sua biografia, Michael Eisner comenta um pouco sobre o desenvolvimento de "O Ratinho Detetive". Ele conta que durante a produção, Ron Clements e John Musker lhe mostraram vários painéis de storyboards, onde o diálogo também era mostrado. Tanto Eisner, como Frank Wells e Katzenberg estavam chegando na empresa, e ninguém sabia direito como produzir filmes de animação. E Eisner conta que teve muitas dúvidas respondidas pelos diretores, mas não escapou de situações embaraçosas.
Leia na Parte II, como Michael Jackson quase participou do filme. E descubra qual personagem mais antigos do mundo de Disney faz uma aparição especial.