O Rei Leão (The Link King - 1994) - Parte I
Por Celbi Pegoraro
Em 1994 o mundo conheceu o maior sucesso de bilheteria da Disney até então de todos os tempos, "O Rei Leão". Terceiro, de uma sucessão de grandes sucessos de público e crítica que incluía "A Bela e a Fera" e "Aladdin", a história do leão Simba ganhou platéias do mundo todo, apenas nos EUA faturando US$ 312 milhões. Mas a produção deste filme esconde curiosas informações de bastidores que valem a pena serem conhecidas.
Os primeiros esboços do projeto datam de 1989 (mesmo ano do lançamento de "A Pequena Sereia"), cuja idéia de produzir um filme estrelado por animais tendo como cenário a natureza foi apresentada. O clássico "Bambi" (1942) foi usado como modelo para guiar os caminhos do novo filme. O primeiro produtor escalado para o projeto foi Thomas Schumacher, hoje presidente da Walt Disney Theatrical Productions (responsável pelos shows da Broadway), na época havia acabado de produzir "Bernardo e Bianca na Terra dos Cangurus" e imediatamente aceitou a tarefa de trabalhar em "King of the Jungle" (Rei da Selva), título inicial de "O Rei Leão".
Schumacher se tornou responsável por supervisionar todo o desenvolvimento diariamente. Também estavam presentes o diretor de "Oliver e sua Turma", George Scribner, e a roteirista de "A Bela e a Fera", Linda Woolverton. As primeiras versões do filme eram repletas de personagens que nunca chegariam às telas, como um amiguinho de Simba - o filhote Mee-Too, e uma raposa com orelhas de morcego. Ao mesmo tempo, um grupo de artistas tentava visualizar os personagens e ambientes através de esboços e pinturas.
Uma das primeiras idéias consideradas foi incorporar o design de motivos africanos na direção de arte do filme, o que resultou em estudo de esculturas e decorações de muitas partes da África, o que ajudou aos artistas da Disney na interpretação de ambiente, vegetação e outros elementos necessários à história.
Outro problema observado pela equipe de desenvolvimento foi o fato que muito da idéia de África selvagem conhecida pelo público tem origem em documentários de televisão e diários fotográficos. Os documentários deram ao ambiente um visual muito característico devido ao uso comum de filmagens a distância que requerem uso de lentes especiais. Os animais são trazidos para perto do público, mas a relação espacial foi modificada. Este foi mais um desafio para os artistas de layout, que deveriam descobrir como simular em animação os efeitos de zoom dessas lentes fotográficas e filmadoras.
Em novembro de 1991, uma delegação do estúdio partiu para o leste da África na que seria a primeira das grandes excursões do tipo para desenvolvimento de filmes. O que os artistas puderam observar na viagem serviram para ter maior conhecimento da região e na resolução de várias questões levantadas durante a primeira fase do projeto. A delegação era formada pelos dois diretores, Roger Allers e George Scribner (também trabalhando nos visuais), Lisa Keene, Brenda Chapman e Chris Sanders.
A viagem trouxe descobertas como ver que o clima lá era bem mais diverso da visão "seca e empoeirada" imaginada inicialmente por Brenda Chapman. Chris Sanders se impressionou com os gigantes vales com visão para todos os lados: "Tudo repleto de luz do Sol e sombras, e foi possível ver tanta coisa de uma vez só que pudemos ver cinco tempestades diferentes se movendo pelo cenário". Até mesmo a canção nonsense cantada por Rakifi no filme teve origem na viagem - o guia cantava "Asante sana - Squash Banana".
Artisticamente o foco se tornou as pinturas de Hans Bacher, curiosamente feitas meses antes da viagem. As pinturas haviam sido descartadas mas trazidas de volta ao se descobrir o quão equilibradas eram ao trazer naturalismo e estilização que todos queriam. Se a arte ia bem, o mesmo não podia se dizer do rumo da história.
Pouco depois do retorno da viagem, Jeffrey Katzenberg, então responsável por toda divisão de filmes da Disney, decidiu tirar George Scribner e Linda Woolverton do projeto. Roger Allers ganharia Rob Minkoff como co-diretor. Thomas Schumacher, então produtor, foi promovido ao cargo de vice-presidente do estúdio. Desse modo, não estava mais trabalhando diariamente no filme, mas continuava de olho no projeto, agora como produtor executivo.
Por sua vez, o produtor de "A Bela e a Fera", Don Hahn foi trazido para o lugar de Schumacher. Sua principal tarefa foi ajudar a equipe a determinar o foco da narrativa. Hahn comentou que "em um filme Disney, personagens são vitais assim como um tema forte. De fato, essas duas coisas são inseparáveis porque os personagens principais - sejam heróis ou vilões - são expressões do tema. Aladdin, por exemplo, é sobre aprender a ser você mesmo; A Bela e a Fera tem o tema ´não julgue o livro pela capa´. O problema com as primeiras versões de O Rei Leão é que não havia claramente um tema. Finalmente descobrimos que o tema era responsabilidade. É sobre deixar a infância e encarar as realidades do mundo. Linda Woolverton em seus primeiros roteiros havia começado a estabelecer uma estrutura que permitiria este tema a ser explorado, mas ainda tinha muita coisa para se fazer".
Na Parte II, saiba mais sobre como a dupla Minkoff e Allers acertaram o filme. E mais adiante, os motivos de "O Rei Leão" ser considerado um "filme B" em sua época de produção e detalhes sobre o processo de criação musical de Elton John e Tim Rice.